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Mostrando postagens de 2017

JANEIRO, O MÊS BIFRONTE

Mais um ano chega ao fim e pensamos que é hora de planejar o futuro, fazer projetos e exprimir desejos para o ano que vem chegando. Janeiro, primeiro mês do ano, anuncia o que está por vir, mas também nos evoca o passado. E isso está no seu nome. Janeiro vem de Jano, deus romano que personifica as passagens, as pontes e os pórticos. E por isso, Jano era bifronte: um dos seus rostos olhava para frente, o outro para trás; um para o passado, o outro para o futuro; um para dentro e o outro para fora. Em português, o termo janela também está relacionado a essa divindade: a janela é uma pequena porta. Era cultuado em uma das colinas de Roma, o Janículo. No calendário romano, janeiro era o primeiro mês após o solstício de inverno. A partir da reforma feita por Júlio César, passou a designar o primeiro mês do ano, como até hoje nos países que adotam o calendário gregoriano, o qual introduziu pequenas correções no calendário juliano. Nesta passagem de ano, não é demais lembrar a importân

TEMPURA E O KEBABBARO

Numa das salas em que lecionei português por vários anos, havia um pôster com várias frutas. Eu perguntava aos alunos: quem adivinha quais são as frutas brasileiras nessa imagem? Erravam quase tudo: a manga vem da Ásia, a jaca idem, a carambola também. Muitas frutas tropicais conhecidas não são nossas, mas nós levamos a fama. Raramente encontramos no exterior fotos de pitangas, essas, sim, típicas do nosso país. Uma vez comprei uma latinha de castanhas de caju, estava escrito: made in Germany. Sim, as típicas castanhas de caju da Alemanha! Quase tive um chilique. A palavra caju vem do tupi, o cajueiro foi levado para a África e para a Ásia pelos portugueses. E o tempura, esse prato típico japonês? É outro caso de importação. Alguns exageram, dizem que as frituras chegaram à China graças a Marco Polo, mas ninguém explica porque o nome tempura pegou em japonês. Portanto, fico com a tese mais recente, segundo a qual o termo vem da expressão "tempore quadragesimae", pois era um

A QUEM PERTENCEM OS MORTOS?

Esta semana, duas notícias sem nenhuma ligação entre si chamaram a minha atenção. Uma delas informava que um documentário brasileiro tinha recebido um prêmio internacional: conta a história dos últimos sobreviventes de um povo destinado à extinção. A extinção certa: é um conceito brutal. Mas é com isso que temos de lidar: com um povo que morre e leva consigo a sua cultura e a sua língua. A derrota é coletiva, todos nós perdemos quando um povo desaparece. A humanidade se revela menos humana por permitir que povos sejam dizimados. A outra notícia referia-se a um político italiano, o qual afirmou que a política deve interessar-se pelos vivos, não pelos mortos. Discute-se na Itália a lei do testamento biológico, que prevê a possibilidade de as pessoas poderem exprimir-se sobre o fim da própria vida. A frase causou polêmica, e não apenas pelo conteúdo ético. Trata-se, claramente, de dois problemas diferentes: em um caso, é uma cultura que se perde juntamente com os seus últimos f

DE PEDRAS, DE PALAVRAS, DE TEMPLOS

"Há entre as pedras e as almas afinidades tão raras como vou dizer?" Esses versos são um trecho da canção Granito, composta por João Bosco e Antônio Cícero. Fazia tempo que queria falar de pedras e de palavras, os versos ofereceram a deixa perfeita. Cada vez que penso no que somos capazes de construir e de destruir com as pedras, acho que daria para escrever a vida toda. Se penso que um dos primeiros materiais usados para fixar a escrita foi a pedra, a mente viaja pela história. Se lembro que há mais afinidades entre as pedras e as palavras do que as aparências podem sugerir... vou contar para vocês: A viagem começa por uma pedra preciosa, o lápis-lazúli. Trata-se de uma pedra conhecida desde a antiguidade, usada para vários fins, inclusive para distinguir  a dignidade real dos governantes. Moída, servia para fazer uma tinta azul: de fato, a palavra azul vem de lazúli, que em persa significa exatamente azul. Era um tipo de coloração de enorme valor durante a Idad

Escola: construção ou desconstrução?

A rede está aí. A globalização está aí. A pós-modernidade está aí. Não é opinião, é um fato. Isso significa lidar com uma realidade na qual tudo é colocado em discussão, na qual a informação - correta ou falsa - difunde-se em milésimos de segundo, na qual reina a relativização, e na qual os saudosistas de um mundo linear e hierárquico continuam usando o giz como arma principal. Lembro de uma das primeiras vezes em que apresentei um estudo sobre a pós-modernidade na literatura: um dos professores na banca de avaliação estava chocado. Não entendeu que a pós-modernidade não é uma ideologia, é uma condição à qual se responde literariamente, arquitetonicamente, sociologicamente, economicamente. E as respostas não são unívocas: há respostas que acentuam a distorção de forma irônica, outras reforçam a imagem do mundo que conhecemos hoje e que, graças a essa realidade globalizada, é também um mundo total apenas na aparência. Nunca como hoje as complexidades foram tão intensas, a necessidade

O "S" DE NÃO

Alguém duvida que a gente diga "não" respondendo que "sim"? Acredite. Isso é mais frequente e mais sutil do que a gente possa imaginar. É uma questão cultural: o maior empecilho para a gente pronunciar aquela palavra negativa, que custa a sair dos lábios, é o nosso problema em ferir os ouvidos e as suscetibilidades alheias. A gente acha que "não" ofende: estamos errados. O "não" esclarece, o "sim" aumenta a hipocrisia. E não basta uma aulinha de língua, de uso dos advérbios, de coerência de texto: a cultura se aninha e cresce com a gente. Destruir um hábito, ou um vício, é uma batalha quixotesca. Em vez de dizer não, a gente prefere prometer e descumprir. Melhor dar uma desculpa de última hora do que acabar com a expectativa no nascedouro. Em vez de usar o não, a gente opta por mentir. Isso é tão comum, que, quando as pessoas dizem algo, sempre há um interlocutor pronto para perguntar: "o que você quer dizer com isso?", co

A arte de lidar com nós

A partir dos quatro anos, começamos aprender a dar nós. A habilidade se desenvolve paralelamente à capacidade de unir sons, juntar sílabas, começar a aprender a escrever. É uma etapa fascinante, cheia de descobertas. Por volta de sete anos a criança já é capaz de amarrar os sapatos e correr para brincar, sem ajuda de ninguém. Já com a língua o caminho é bem mais longo. Não basta aprender a dar um nó no texto. É preciso aprender a técnica de soltar os nós. Mas a mais fascinante é a habilidade de lidar com os nós, apertando, afrouxando, mas sem se desfazer deles. Os nós são os pontos de tensão, onde o autor exerce a correta pressão sobre o leitor. Se puxa demais, o leitor desiste. Se deixa muito frouxo, o leitor escapa. Os pontos de tensão em um texto marcam o ritmo, como se o texto fosse uma verdadeira partitura. A tensão aumenta e cai lenta ou bruscamente. Em certos momentos o ritmo segue de forma linear, para o texto fluir e dar segurança ao leitor. Mas é fundamental ter clara a noç

A crítica e a opinião

A crítica está em crise. Problema? Não. O problema é a crítica não estar em crise. Crise é um momento importante, de mudança de uma situação, é uma ação que estabelece a decisão. Crise é um termo usado em medicina e em economia. Na linguagem cotidiana é usado como se fosse sinônimo de problema, mas não é. A crise é o momento da definição da solução, boa ou má que seja. De todo modo, a crise da crítica é também um problema. A crise cotidiana da crítica é ser confundida com opinião e não ter instrumentos suficientemente prosaicos para rebater opiniões reles. A boa crítica vale-se de linguagem própria, de instrumentos adequados, que os especialistas conhecem e nos quais os não especialistas deveriam confiar mais. É como quando a gente vai ao médico: se não quer aceitar o conselho profissional, pode acreditar no palpite. Mas não venham dizer que os dois pareceres têm o mesmo valor! Por exemplo, quando um crítico diz: "isto é um museu" ou "isto não é um museu, é um presídi

E SE A MBOITATÁ FOSSE UMA METÁFORA ATUAL?

Esta semana lembrei da Mboitatá, lenda do sul recolhida e reescrita literariamente por Simões Lopes Neto, em 1913. A distância de um século parece irônica, mas o tempo não faz ironia, apenas passa inexoravelmente, oferecendo-nos novas possibilidades de interpretação. Nada nessa lenda abunda, tudo funciona para a construção da narrativa e para a alegoria do retorno do mundo à luz e do seu renascimento depois da morte da Mboitatá. O relato inicia nos tempos imemoráveis, que caracterizam os textos lendários: "FOI ASSIM: num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia." O narrador, contudo, introduz a multiplicidade de versões da história da Mboitatá, empregando um recurso estilístico que encontraremos vinte anos mais tarde, em pleno modernismo, nos Contos de Belazarte , de Mario de Andrade. De fato, os capítulos II e III começam pela intercalação "Minto", típica da oralidade, para reformular a versão inic

VERBA VOLANT, MESMO EM PDF

A desmaterialização de documentos é um tema que vem sendo discutido há tempo, desde que o Poder Judiciário resolveu adotar o procedimento em alguns casos. Na prática, permite-se que em certas condições o documento físico seja destruído e conserve-se apenas a sua versão digitalizada. O tema voltou à discussão em junho deste ano, quando um projeto de lei passou no Senado e foi enviado para a Câmara. Como no caso do Judiciário, o projeto atual, que universaliza o procedimento de digitalização, apresenta cláusulas que deveriam proteger a memória, com redução de custos. De fato, a motivação do projeto está na diminuição das despesas de manutenção dos arquivos físicos. O problema é que as medidas de proteção, como a exigência de que o documento seja gravado em formato certificado e inalterável, são desmentidas pela volatilidade da tecnologia. Vou dar um exemplo do meu cotidiano: o formato PDF é considerado seguro e inalterável, podendo ser utilizado para o envio de documentação eletrônica

ESCRAVOS E SERVOS OU DEVOTOS E CEIFADORES?

As palavras "escravo" e "servo" estão associadas aos termos "eslavo" e "sérvio". Como elas se relacionam? A história inicia no século V, durante o reinado de Heráclio, que substituiu o latim pelo grego e estabaleceu de fato o Império Bizantino ou Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla, atual Istambul. Era um período de guerras constantes com vários povos bárbaros que ocupavam todo o Império Romano e determinavam a sua decadência, especialmente na península itálica. Ao obter finalmente o controle sobre a região oriental do Império, após inúmeras batalhas, alianças estratégicas, retiradas e avanços em várias partes do território, Heráclio convocou os eslavos e os sérvios para repovoarem a região da Dalmácia, chamada à época de Grécia deserta. A adesão à língua grega por parte dos cronistas bizantinos era um imperativo e faziam isso ainda que para tanto distorcessem as palavras originais devido à escassa familiaridade com o idiom

HABEMUS MINISTRUM

Os franceses possuem uma expressão popular para exprimir a continuidade no poder. Eles dizem: “le roi est mort, vive le roi!”, ou seja, o rei está morto, viva o rei. Esta era a fórmula utilizada pela monarquia, antes da Revolução Burguesa, para afirmar a solidez da instituição. Nada como a história para destruir as nossas mais sólidas convicções. De toda forma, o dito continua vivo. Em italiano, adaptando a noção de monarquia, costuma-se dizer: “morto un papa, se ne fa un altro”, quer dizer, quando um papa morre, elege-se outro. E para dar o anúncio, usa-se a frase solene, em latim: “habemus papam”. Nada como um dito popular para destruir o comparativismo reles que compromete uma análise. Citei os dois casos, em que temos nada mais que uma tradução feita por equivalência, considerando, portanto, o contexto cultural no qual as frases são empregadas, para mostrar que podemos traduzir, mas não podemos generalizar. Ou seja, a validade da sentença é estritamente local e a adaptaçã

NOMENCLATURA, CULTURA

Semanas atrás reclamei dos veganos na minha coluna no Correio Riograndense: percebo que a minha antipatia não se relaciona apenas à atitude, mas também à nomenclatura. Vivemos imersos em uma cultura com seus nomes e respectivas definições. Exemplo: hambúrguer, termo que indica um bolinho prensado de carne, inventado em Hamburgo, que lhe emprestou o radical para a formação do nome. Não dá para separar hambúrguer do nome da cidade e do seu ingrediente principal: hambúrguer vegano é uma contradição. Entendo que para os veganos é difícil afastar-se da cultura na qual estão mergulhados. Mas proponho uma comparação, para fazer uma provocação:  se os comunistas substituíssem o nome do seu sistema por uma expressão mais digerível dentro do sistema capitalista, será que haveria o mesmo impacto, causaria a mesma apaixonada oposição?  Se Marx tivesse definido o comunismo como "capitalismo do bem" ou como "capitalismo sem classes", estaria fazendo uma boa definição? Faço mai

MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDA-SE A LINGUAGEM

A língua, como no soneto atribuído a Camões, muda de acordo com o tempo e com a vontade de mudança das nossas sociedades. Para dar uma ideia de como a língua é dinâmica, basta pensar que em um ano mais de 800 palavras foram incluídas no nosso idioma. Também li que em italiano, nos últimos dez anos, cerca de 7500 novas palavras foram introduzidas no dicionário mais popular do país, o Zingarelli. Mas como a língua muda? A língua, como a sociedade, transforma-se de modo desigual, pois não podemos afirmar que tudo em uma sociedade possui a mesma prioridade: seria uma contradição. Há setores que recebem maior impulso, outros que recebem mais atenção, outros que são mais necessários. Partindo dos dados referentes à língua italiana, podemos ter uma ideia de como a ampliação do  vocabulário ocorre também em português, já que muitas palavras possuem um uso global. Os setores que mais produzem neologismos são a informática e a medicina. Até aqui, nenhuma surpresa, em duas áreas de ponta, conti

10 MOTIVOS PARA GOSTAR DA LÍNGUA PORTUGUESA

Cada pessoa tem o seu encanto, cada língua também. Chego mesmo a pensar que o encanto de certas pessoas não seria o mesmo se elas falassem uma língua diferente: o encanto muda de acordo a língua que a pessoa está falando. O efeito é diferente nos nossos ouvidos. Para nós, falantes de português, isso é ainda mais evidente, porque apenas nós possuímos essa frase imortal: "A minha pátria é a língua portuguesa" (Livro do Desassossego, Bernardo Soares/Fernando Pessoa). Circulamos em um terreno fluido desde o berço, em que as fronteiras são mais culturais e emotivas do que políticas e nacionais. Esse percurso linguístico nos forma e nos transforma. Nos leva ao passado, nos incorpora às nossas raízes, nos faz sonhar com terras distantes. Se isso não basta, listo aqui outros bons motivos para gostar da língua portuguesa: 1. Uma língua que agrega, não exclui Nós detestamos usar palavras estrangeiras. Ao agregar palavras de outros idiomas, adaptamos os termos à nossa ortografia e

POR OUTRO LADO, CUIDADO

Levante a mão quem não aprendeu que uma boa dissertação escolar precisa apresentar os argumentos e contra-argumentos em dois parágrafos separados? É verdade. Ensina-se assim. Apresenta-se a questão que "por um lado" é assim e "por outro lado", assado. Tudo bem, mas cuidado com o "por outro lado". Quando estamos apresentando o outro lado da questão, que muitas vezes não coincide com o que pensamos, acreditamos, defendemos e consideramos correto, corremos um risco bastante alto de fazer uma média, em vez de apresentar realmente o outro lado. Corremos o risco de relativizar a nossa própria posição, a fim de dar espaço à posição do outro. Corremos o risco de assumir uma posição que não é nossa e de parecer que, afinal de contas, não temos nenhuma posição, apenas precisamos preencher trinta linhas seguindo o modelito do manual. Uma boa dissertação é bem diferente disso. Não requer uma posição equidistante, assética, indolor. Façamos um exemplo: devo falar sob

PALAVRAS OFENSIVAS, SEM QUERER

A gente não precisa eliminar do dicionário palavras ofensivas, desagradáveis, discriminatórias. Não precisa. Não precisa ser politicamente correto para lavar a consciência, se a substância não muda. Ao contrário, é preciso compreender o quanto as palavras podem ferir e só por isso evitá-las. É preciso ter empatia, sentir o que dói no ouvido do outro para compreender os motivos pelos quais certas palavras não deveriam ser usadas, especialmente quando o uso não é utilizado com o preciso objetivo de ofender! Imagine, por exemplo, quando alguém com muita pena por uma perda devido a um desastre natural, digamos uma chuvarada que estraga a horta, exclama: "que judiaria!". A expressão "que judiaria!" é muito comum no Rio Grande do Sul. Vem da palavra "judeu", mas a maioria das pessoas não pensam nisso quando usam essa expressão em vez de dizer "que pena!" ou "sinto muito!". Dizem "que judiaria!" e se a pessoa comenta como isso é des

Poema ao contrário

O dia da língua portuguesa eu festejo fazendo uns versinhos: Poema ao contrário Se as palavras sumissem Caminhar descalço Seria apenas um gesto Sem adjetivos Extravagante, miserável Bêbado, festivo Marítimo Poderíamos criar asas Sem definições que nos informassem Que isso é impossível Riscaríamos os mapas dos livros Para eliminar as legendas E traçar novos caminhos com nossos pés Se as palavras sumissem Beijos voltariam a ser beijos E não um significado De amor  Ou traição Não haveria ambiguidade Ou arrependimento Mas também não haveria perdão Não haveria borrachas Sem palavras para apagar E as ofensas seriam eternas Marcadas como ferro na memória: A dor de um braço machucado A tristeza de uma lágrima Sem palavras o sentimento seria tátil Gelada a solidão Sem palavras, a mudez seria Uma pose, uma fuga Ou a paralisação Sem palavras não contaria até dez Antes do soco na cara Sem palavras não há solução.

Nove verdades e uma mentira sobre a tradução

Resolvi entrar na brincadeira e falar algumas verdades sobre a tradução e o trabalho do tradutor. 1. A tradução promove o encontro de culturas, é verdade. Mas deve fazer isso sem achatar as diferenças, caso contrário, perde-se o valor da alteridade.   2. A tradução não deve ser feita palavra por palavra, nem conceito por conceito, mas texto por texto. Ou seja, a tradução ocorre em todos os níveis do texto, da fonética ao léxico , da sintaxe à semântica, até o contexto cultural de fundo.   3. Traduzir é entrar no papel do autor sem esquecer a própria bagagem. É exatamente no reconhecimento da sua bagagem pessoal que o tradutor faz emergir os aspectos relevantes do seu trabalho, como um barqueiro que transporta a língua original para a outra margem do rio. Transporta, mas não se confunde com ela.   4. O tradutor sabe lidar com todas as suas almas, sem se perder e sem fazer confusão. De certa forma, traduzir é deixar-se levar por uma saudável esquizofrenia ou assumir a heteronomia