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Mostrando postagens de novembro, 2017

A QUEM PERTENCEM OS MORTOS?

Esta semana, duas notícias sem nenhuma ligação entre si chamaram a minha atenção. Uma delas informava que um documentário brasileiro tinha recebido um prêmio internacional: conta a história dos últimos sobreviventes de um povo destinado à extinção. A extinção certa: é um conceito brutal. Mas é com isso que temos de lidar: com um povo que morre e leva consigo a sua cultura e a sua língua. A derrota é coletiva, todos nós perdemos quando um povo desaparece. A humanidade se revela menos humana por permitir que povos sejam dizimados. A outra notícia referia-se a um político italiano, o qual afirmou que a política deve interessar-se pelos vivos, não pelos mortos. Discute-se na Itália a lei do testamento biológico, que prevê a possibilidade de as pessoas poderem exprimir-se sobre o fim da própria vida. A frase causou polêmica, e não apenas pelo conteúdo ético. Trata-se, claramente, de dois problemas diferentes: em um caso, é uma cultura que se perde juntamente com os seus últimos f

DE PEDRAS, DE PALAVRAS, DE TEMPLOS

"Há entre as pedras e as almas afinidades tão raras como vou dizer?" Esses versos são um trecho da canção Granito, composta por João Bosco e Antônio Cícero. Fazia tempo que queria falar de pedras e de palavras, os versos ofereceram a deixa perfeita. Cada vez que penso no que somos capazes de construir e de destruir com as pedras, acho que daria para escrever a vida toda. Se penso que um dos primeiros materiais usados para fixar a escrita foi a pedra, a mente viaja pela história. Se lembro que há mais afinidades entre as pedras e as palavras do que as aparências podem sugerir... vou contar para vocês: A viagem começa por uma pedra preciosa, o lápis-lazúli. Trata-se de uma pedra conhecida desde a antiguidade, usada para vários fins, inclusive para distinguir  a dignidade real dos governantes. Moída, servia para fazer uma tinta azul: de fato, a palavra azul vem de lazúli, que em persa significa exatamente azul. Era um tipo de coloração de enorme valor durante a Idad

Escola: construção ou desconstrução?

A rede está aí. A globalização está aí. A pós-modernidade está aí. Não é opinião, é um fato. Isso significa lidar com uma realidade na qual tudo é colocado em discussão, na qual a informação - correta ou falsa - difunde-se em milésimos de segundo, na qual reina a relativização, e na qual os saudosistas de um mundo linear e hierárquico continuam usando o giz como arma principal. Lembro de uma das primeiras vezes em que apresentei um estudo sobre a pós-modernidade na literatura: um dos professores na banca de avaliação estava chocado. Não entendeu que a pós-modernidade não é uma ideologia, é uma condição à qual se responde literariamente, arquitetonicamente, sociologicamente, economicamente. E as respostas não são unívocas: há respostas que acentuam a distorção de forma irônica, outras reforçam a imagem do mundo que conhecemos hoje e que, graças a essa realidade globalizada, é também um mundo total apenas na aparência. Nunca como hoje as complexidades foram tão intensas, a necessidade