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10 MOTIVOS PARA GOSTAR DA LÍNGUA PORTUGUESA

Cada pessoa tem o seu encanto, cada língua também. Chego mesmo a pensar que o encanto de certas pessoas não seria o mesmo se elas falassem uma língua diferente: o encanto muda de acordo a língua que a pessoa está falando. O efeito é diferente nos nossos ouvidos.
Para nós, falantes de português, isso é ainda mais evidente, porque apenas nós possuímos essa frase imortal: "A minha pátria é a língua portuguesa" (Livro do Desassossego, Bernardo Soares/Fernando Pessoa).
Circulamos em um terreno fluido desde o berço, em que as fronteiras são mais culturais e emotivas do que políticas e nacionais. Esse percurso linguístico nos forma e nos transforma. Nos leva ao passado, nos incorpora às nossas raízes, nos faz sonhar com terras distantes.
Se isso não basta, listo aqui outros bons motivos para gostar da língua portuguesa:

1. Uma língua que agrega, não exclui
Nós detestamos usar palavras estrangeiras. Ao agregar palavras de outros idiomas, adaptamos os termos à nossa ortografia e à nossa fonética. O resultado é uma língua explosiva, cheia de palavras equivalentes. Se falo espanhol, é fácil encontrar uma palavra portuguesa adaptada do espanhol; se falo italiano, idem. Se falo inglês, abro um mundo. Mas com o inglês a situação fica divertida, porque adaptamos de um jeito que só nós entendemos e pronunciamos de um jeito todo nosso.

2. Uma língua cheia de vogais e ditongos
As vogais comportam musicalidade. E nisso nós somos bons, com as nossas vogais abertas, vogais fechadas, nasalizações e ditongação que tanto caracterizam o nosso modo de falar. Especialmente o registro brasileiro é inconfundível, com vogais e ditongos no final das palavras que parecem nunca acabar.

3. Uma língua que continua na história
Quando a gramática não basta, abre-se o livro de história e a língua recomeça a produzir significados. Todas as línguas são assim, pois carregam um patrimônio etimológico que faz parte do conceito de língua. Como a nossa história é bastante rica, marcada pela expansão do Império romano, pela invasão árabe e bárbara, pelas navegações, pela colonização na África e pela colonização do Brasil, pela exploração dos mares asiáticos e pelo intenso fluxo migratório no Brasil, a nossa língua ficou assim, cheia de histórias de encontros e conflitos, costumes e crenças, que deixaram marcas no nosso léxico. Entender a língua portuguesa é abrir um livro de história.

4.  Uma língua exagerada, mas que não gosta de ecos
Um português bem escrito evita rimas, a menos que se trate de um texto poético. Ao contrário de línguas como o inglês e o italiano, em que os advérbios são repetidos por inteiro, criando ecos nas frases, a língua portuguesa elimina todos os sufixos -mente dos seus advérbios, exceto no último da lista. Um vale por todos.

5. Uma língua cheia de regras
Se tem uma coisa que caracteriza a língua portuguesa, são as suas regras e as exceções às regras. É interessante, porque as exceções também têm uma certa regularidade. E aquilo que escapa a todas as regras é porque é tão antigo e tão frequentemente usado, que já faz parte do patrimônio, está tombado.

6. Uma língua com pretérito perfeito composto
Tem coisa mais linda que o pretérito perfeito composto? É aquele tempo verbal que indica uma ação que já ocorreu no passado, se repetiu, provavelmente será realizada ainda no futuro, mas não é habitual. Exemplo? "Tenho ido para a praia nas férias." Isso significa que geralmente não vou para a praia nas férias, mas pelo menos em duas ocasiões já fui (repetição) e isso pode voltar a acontecer.

7. Uma língua com futuro do subjuntivo
Ah, em português não existe apenas o futuro do indicativo, aquele que acontecerá, mas existe o futuro do subjuntivo, o fato que acontecerá em determinadas condições. A diferença? Um colega observava, tempos atrás, quando o otimismo do brasileiro estava imbatível. Ele dizia: os brasileiros não falam mais "vou tirar férias, se Deus quiser"; agora as pessoas dizem "vou tirar férias no ano que vem"; não dizem mais "se Deus quiser" (futuro do subjuntivo) porque agora elas têm certeza que poderão tirar férias.

8. Uma língua com infinitivo pessoal
Se é infinitivo como pode ser pessoal? Pois é, em português pode. O infinitivo pessoal é o ato de realizar uma ação que está relacionada a uma pessoa, singular ou plural. Então dizemos: Para (eu) fazer o exame, preciso estudar. Para (nós) fazermos o exame, precisamos estudar.

9. Uma língua cheia de expressões idiomáticas
O português é assim: para a gente compreender profundamente precisa ter criatividade. Todo dia tem algo novo, todo dia inventam uma expressão, um sentido para uma palavra velha ou uma palavra nova para que os conceitos não se confundam com o que já é velho e conhecido. Abusamos das metáforas, das ironias e dos eufemismos, porque não gostamos de ofender ninguém. Comunicamos de forma criativa, mas corremos o risco de compreender de forma equivocada, mas no fim tudo se resolve.

10. Uma língua que não sabe dizer "não"
Ah, em português a gente realmente tem dificuldade para dizer "não". Se o anfitrião pergunta: gostou do prato? A gente nunca dirá que estava salgado, mas dirá que não estava nada mal. A música do vizinho incomoda? Nossa, eu adoro música, pena que estou me preparando para um exame. Recebeu um convite desagradável? Que legal, eu adoraria aceitar, mas infelizmente já tinha um compromisso marcado. Será que existe uma língua mais simpática na qual responder gentilmente que "não", simplesmente "não"?

Comentários

  1. muito bom, aliás, como todos os textos publicados pela autora.Original - não me lembro de ter lido algo semelhante em relação a outras línguas. Como toda boa professora, a autora foi bastante didática, o texto pode servir como ilustração para uma boao aula, de português, é claro...

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    Respostas
    1. Obrigada, a ideia era realmente mostrar para quem estuda português que essa língua vale a pena por aquilo que é, e não apenas por uma razão prática, que pode ser um motivo pessoal, profissional ou outro que exija o seu estudo.

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