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Mostrando postagens de agosto, 2013

LEMBREI: SOU PROFESSORA

Há um ano trabalho oficialmente como tradutora. A tradução não é uma atividade nova na minha vida profissional, mas até o ano passado era o meu segundo trabalho, embora fosse o mais importante economicamente. Isso é só para explicar o que todo mundo sabe: que professor ganha muito mal. Professores bem remunerados são tão raros quanto os pandas da China, quanto os tigres de Bengala, quanto os ursos pardos da Europa. Tradutores bem remunerados também são raros. Como disse, o trabalho de tradutor era o meu segundo emprego, e em geral é assim para os grandes e para os desconhecidos tradutores, que levam adiante o seu trabalho por amor à literatura e à ciência, por amor à difusão do conhecimento. A diferença é que tradutores de profissão são poucos e, em geral, quando alcançam essa condição sabem que estão entrando em um círculo privilegiado; professores de profissão precisam ser muitos e sabem que estão condenados a uma vida de sacrifícios em troca da nobre missão. Os professores têm

MEMÓRIAS - ENTRE O PÃO E A PALAVRA

A minha primeira experiência marcante na docência aconteceu dentro de uma grande fábrica. Eram os anos em que as empresas investiam em cursos preparatórios para exames supletivos. Não faziam isso por súbito compromentimento social, nem por filantropismo (quero dizer filantropismo mesmo, não filantropia) ou por visão estratégica da formação para os resultados industriais: investiam só porque eram obrigadas a obter a certificação internacional de qualidade do processo de produção, a famigerada ISO 9000, que previa a execução do trabalho por pessoas com uma formação comprovada no papel. É relevante notar que o ponto básico era esse: não importava fazer digerir o conhecimento ou fornecer uma formação capaz de ampliar os horizontes e criar possibilidades de crescimento profissional para os funcionários. O importante era que o maior número possível de funcionários obtivesse a aprovação no exame supletivo. Bem entendido que quem não passasse no exame arriscava o emprego. A empresa fazia o

ABECEDÁRIO PROVISÓRIO SOBRE A LÍNGUA SEGUNDO OS SEUS MESTRES

Se a língua é feminina, esses senhores não se furtaram ao seu encanto. Amor - "Não há língua que d'amor não cante" (José Albano) Beleza - "Grande Língua! Essa do Pedro. Essa do Zé. Pois é. E mais não digo e beleza!" (Pedro Américo de Farias) Carecimentos - "A língua deste gentio toda pela Costa é, uma carece de três letras – scilicet, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente." (Pero de Magalhães Gândavo) Dialeto - "O dialeto que se usa à margem esquerda da frase, eis a fala que me lusa, eu, meio, eu dentro, eu, quase."  (Paulo Leminski) Enigma - "Como podia ser que entendessem o enigma da terra, se não tinham as notícias nem a língua dela?" (Padre Antônio Vieira) Ferro - "Reparou nas flores de ferro dos quatro jarros das esquinas? Pois aquilo é ferro forjado. Flores criadas numa outra língua." (João