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A arte de lidar com nós

A partir dos quatro anos, começamos aprender a dar nós. A habilidade se desenvolve paralelamente à capacidade de unir sons, juntar sílabas, começar a aprender a escrever. É uma etapa fascinante, cheia de descobertas. Por volta de sete anos a criança já é capaz de amarrar os sapatos e correr para brincar, sem ajuda de ninguém. Já com a língua o caminho é bem mais longo.
Não basta aprender a dar um nó no texto. É preciso aprender a técnica de soltar os nós. Mas a mais fascinante é a habilidade de lidar com os nós, apertando, afrouxando, mas sem se desfazer deles.
Os nós são os pontos de tensão, onde o autor exerce a correta pressão sobre o leitor. Se puxa demais, o leitor desiste. Se deixa muito frouxo, o leitor escapa. Os pontos de tensão em um texto marcam o ritmo, como se o texto fosse uma verdadeira partitura. A tensão aumenta e cai lenta ou bruscamente. Em certos momentos o ritmo segue de forma linear, para o texto fluir e dar segurança ao leitor. Mas é fundamental ter clara a noção de ritmo. Um texto com introdução, desenvolvimento e conclusão, como geralmente ensinam na escola, é um texto previsível. É correto, mas não tem personalidade.
Lidar com a noção de ritmo e saber identificar pontos de tensão no texto é importante para criar um texto interessante, capaz de atrair a atenção do leitor no momento e na medida certa.
O conselho vale para tudo: desde a narrativa até um texto técnico. Mesmo quando alguém está escrevendo uma bula de remédio, é preciso ter clareza sobre os pontos que mais irão chamar a atenção, distribuindo a informação na dose exata, na ordem mais apropriada para atingir os objetivos do texto. Onde falar dos sintomas que levam a pessoa a comprar um determinado remédio? Em que momento abordar as questão dos efeitos colaterais? Em que ponto indicar a posologia?
Apesar de serem padronizados e estruturados a partir de exigências técnicas, mais do que comunicativas, o debate sobre a construção desse tipo de texto e sobre a distribuição da informação é vivo e lentamente provoca mudanças. Portanto, é sempre útil pensar que nada é tão óbvio ou padronizado, que não possa ser modificado e melhorado.
Lidar com a noção de ritmo e de tensão também nos ajuda na comunicação cotidiana. É preciso perceber o momento melhor para apresentar uma notícia ruim ou para não esvaziar uma notícia boa dada no momento inadequado. Ritmo e tensão, portanto, têm a ver com o tempo e com o contexto. Trata-se de operações muito mais complexas que aprender a dar o nó nos sapatos e correr para brincar. Se penso na língua em termos de calçado usado para ganhar o mundo, penso não apenas em um par de sapatos para cobrir os pés, mas em uma sapataria, onde a cada momento tenho de escolher o par correto para a dança em execução. Para alguns ritmos, o melhor é nem usar sapato, mas utilizar o acessório como peça da coreografia, por exemplo, jogando os chinelos para o alto, como quem desafia a gramática. Em outros casos, é preciso ser exato, porque um sapato frouxo é garantia de tombo. Em todos os casos, lidar com os nós é o processo mais interessante e que permite que melhor expressemos as nossas habilidades comunicativas.

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