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Mostrando postagens de maio, 2013

QUE TAL?

Hoje começo utilizando o péssimo costume dos internautas: citando. Segue a definição de "tal" de acordo com o Dicionário Aurélio. [Do lat. tale, 'semelhante'.] Pron.    1. Semelhante, análogo, tão bom, tão grande, etc.     2. Este, aquele; um certo  3. Isso, aquilo  4. Us. depois de um substantivo, pode substituir um nome que se quer ou se finge ocultar   5. Lus.  Designa quantidade que excede em número redondo; tanto(s) S. 2 g.   6. Bras.  Gír.  Pessoa que tem, ou julga ter valor excepcional em qualquer coisa; o notável, o batuta, o bamba, o ás   "Tal" parece uma palavrinha tão inofensiva... mas pensando bem, complica a vida do falante, especialmente se não for falante nativo, porque admite muitos usos idiomáticos. Começo pela expressão "que tal?" . Em muitos lugares, "que tal" introduz uma pergunta que equivale a "o que acha de...?". Exemplo: "Que tal um cineminha hoje?". Mas

COMO DIZER "PROBLEMA" E COMO EXORCIZÁ-LO

Quando fico submersa por mensagens que exaltam o lado positivo da vida, a bondade que está dentro de nós, a felicidade a todo custo, penso: como pode uma sociedade "do bem" ser tão e tão continuamente violada pelo mal? Será que falta determinação em fazer o bem ou falta determinação em cortar o mal pela raiz? Aposto que na nossa cultura o problema está na nossa pouca força para enfrentar o mal. A gente nega, diz que não foi por querer, encontra desculpas indesculpáveis e tem ojeriza à responsabilidade. A culpa é sempre do outro e "eu não sei, não vi, nem quero saber": não é problema meu. Nisso, o uso da língua é exemplar. Nós temos dois padrões para escapar daquilo que nos incomoda: usando a metáfora ou recorrendo à catacrese, quer dizer, a um termo que no contexto serve como sinônimo, mas sinônimo não é. Quando temos um problema, mas não queremos dizer de forma explícita, recorremos a metáforas como: abacaxi, pepino, batata quente, zebra (usadas para cois

TRADUZIR É...

1. Conhecer o vocabulário das línguas de trabalho e dedicar-se a aprimorá-lo sempre 2. Dominar as diferentes estruturas sintáticas 3. Ser capaz de transpor diferentes registros linguísticos 4. Ser capaz de reproduzir em diferentes idiomas as suas musicalidades 5. Tentar captar as intencionalidades e saber sugeri-las em outra língua 6. Saber identificar o destinatário ideal do texto original e saber imaginar o destinatário na língua traduzida 7. Procurar metáforas que se aproximem de uma equivalência 8. Tentar ser fiel 9. Reconhecer as próprias limitações e tentar superar os próprios limites 10. É gostar de resolver problemas e saber que sempre haverá um resíduo de incompreensão Escrevi os nove primeiros pontos só para chegar ao décimo, porque estou convencida de que o bom tradutor permanece sempre um pouco incompreendido. O bom tradutor obviamente conhece bem a língua, as suas estruturas fonéticas, lexicais, sintáticas e semânticas. Sabe que um texto tem um autor real ao qua

OUTRA VEZ O BELETRISMO

Belestrismo é um termo derivado e aportuguesado do francês "belles lettres", as belas letras. O beletrismo é geralmente usado em sentido pejorativo, para indicar uma atitude de afetação em relação à cultura. É a ostentação da cultura. É a publicidade enganosa. Costumo associar ao beletrismo o nosso arraigado bacharelismo, mas, muito melhor do que eu, Lima Barreto soube bem exemplificar o que é bacharelismo e reles beletrismo no magistral conto "Numa e a Ninfa". O protagonista é um bacharel formado por apostila, especialista em resumos, com um verniz de cultura de almanaque, o suficiente para fazer uma ou outra citação capaz de causar efeito em uma plateia tão culta quanto ele. O drama do deputado Numa evidencia-se quando ele descobre que a ajudar a redigir os seus discursos não é somente a esposa abnegada, disposta a varar madrugadas para salvar a reputação do marido, mas o amante que é ninguém menos que o seu adversário político. A solução cômica dada pelo autor,