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Mostrando postagens de julho, 2011

SUFIXO, SUFIXO MEU

Existe algum no mundo melhor do que –EIRO? Há quem goste de –ISTA e quem prefira –MENTE. Eu não nutro grande simpatia por nenhum dos dois. Implico com –ISTA por sua fama especializada, que tende a ver tudo por uma parte, é uma metoníma desajeitada. –MENTE, ao contrário, parece arroz de festa: exagera e é preciso apelar para o rigor normativo a fim de salvar o estilo, eliminar o eco e poupar os nossos ouvidos. Admitidas as antipatias, confesso que perdoo todos os –INHOS, nossa marca registrada: estão aí prontos para enternecer, ironizar, enfatizar e o que mais se quiser. –INHO é pau pra toda obra. Gosto também de –DOR, mas o meu preferido é –EIRO: é um daqueles sufixos sempre dispostos a agregar-se, dando função a atividades práticas, aplicadas, àquelas que deveriam ser melhores (mas a gente faz o que pode!) e àquelas das quais seria melhor não falar, mas comentamos com um toque de galhardia. Vai do padeiro ao porteiro, do engenheiro ao enfermeiro, do arruaceiro ao bagunceiro, do

EM VIA DE EXTINÇÃO 4

Desta vez publico uma lista sujeita a reclamações. Porque os números mentem, mesmo de boa fé. Trata-se de tema delicado, a política. Quando comecei a pescar as palavras, achei que estariam perdidas em notícias de arquivo. Para minha surpresa estão aí, sendo usadas para descrever, insultar, ironizar, e se não aparecem mais é porque talvez alguém tente esconder o jogo. Trata-se de pistolão, biônico, chapa branca, correligionário, cabo eleitoral, nepotismo, cabresto. Na coluna ao lado, em ordem alfabética, os comentários.

SER BRASILEIRA É

É flexionar os nomes no gênero feminino É ter etimologias abundantes É usar verbos no futuro É ir além dos regionalismos É assumir o seu idioleto É ter direito à polissemia É fazer da pronúncia uma música que encanta É gritar aos surdos que a língua é mulher Quando certa Ou quando incorrigível Ser brasileira é reconhecer que a alma Mora na nação Chamada Língua Portuguesa

LÍNGUA COM PRAZO DE VALIDADE

A história começa com os exames de língua estrangeira: há várias instituições que fornecem certificados com prazo de validade estabelecido. Em alguns casos, depois de dois anos a pessoa precisa submeter-se novamente a teste para mostrar o que sabe. Por trás da revalidação periódica das provas provalvemente subjaz a ideia de que a competência em um idioma é uma situação sujeita a avanços e retrocessos. De fato, a língua é dinâmica e os falantes estão sujeitos a isso, de modo que um conhecimento adquirido não pode ser considerado um fenômeno estanque no tempo. E em relação à língua materna? Essa preocupação emerge por meio dos estudos sobre o analfabetismo funcional. O que é isso? É o inexistente ou parco conhecimento da língua escrita (o que se traduz em quatro anos de instrução formal ou menos, sem contar a possível perda gradual de familiaridade com a língua depois da interrupção dos estudos, o que coloca o nosso analfabetismo na estratosférica faixa de 75% da população adulta). Pa

CUIDADO COM O QUE VOCÊ OUVE

A autora adverte: ouvir sem escutar é prejudicial à boa prosa. O bate-papo pode ser algo mais que uma conversa des(con)traída. Prestar atenção (quer dizer, ouvir escutando) significa colher detalhes na fala do interlocutor que podem ser reveladores, surpreendentes e evitar equívocos. Os psicanalistas que o digam, eles que vivem das meias-palavras alheias. Há, contudo, um outro elemento interessante a considerar: o nosso modo de ouvir. Ouvimos o que o interlocutor diz ou o que queremos escutar? Ouvir o que já está sedimentado na nossa babagem linguística e cultural é um fenômeno que constato frequentemente ensinando língua estrangeira. Diante do desconhecido, o ouvinte tende a procurar um sentido no seu repertório pessoal, que o afasta do que realmente está sendo dito. Vem-me à mente também o esquete da velha da praça (de um antigo programa humorístico da tv brasileira), em que a senhora sempre entendia algo diferente do que lhe era dito. Quer dizer, tratando-se de línguas diferentes o