Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2013

DESEJOS PARA 2014 OU DOS ERROS A SEREM EVITADOS

Deu tempo: vai aí a saideira de 2013! Como em todo final de ano, reservamos os últimos dias para fazer um balanço e programar o ano que está por chegar. O balanço já fizemos no texto de 13 de dezembro:  http://palavrasdebulhadas.blogspot.it/2013/12/retrospectiva-lingua-portuguesa-rumo-ao.html  . Portanto, falta o programa, aquela lista de coisas (boas, presume-se) para colocar em prática em 2014. E isso tem a ver com português? Ah, tem! Porque a coisa mais chata é ler aquelas mensagens cheias de boas-intenções mal apresentadas. Tipo assim: "Espero que as pessoas sejam menos corruptas"... O que é isso? Ser um pouquinho menos corrupto? Ser corrupto, mas não tanto? Certas qualidades não admitem gradação, sinto muito. É uma questão de estilo. Então aquele amigo que mente um pouquinho pode ser pouco mentiroso, mas sempre mentiroso é. "Espero contar com amigos mais sinceros". Outra ilusão. É assim: o sujeito sabe que está sendo enganado, mas acredita só naquele

E-RONIA, O TRIUNFO DA RETÓRICA NA ERA DAS REDES SOCIAIS

"Só sei que nada sei". Um dos momentos mais gloriosos da ironia encontra-se nos primórdios da filosofia ocidental. Graças aos discursos platônicos, hoje existe uma categoria específica de ironia, a ironia socrática. Para "parir" as ideias, Sócrates, a personagem dos discursos platônicos, reunia para um bate-papo uma plateia, à qual confessava não conhecer determinado assunto, mas estar muito interessado em entendê-lo. A conversinha mansa ia adiante entre uma pergunta e uma resposta e aos poucos o conhecimento emergia. Era uma mentira descarada essa do Sócrates, porque ele sabia bem do que falava, mas se valia da ironia ("eu não sei, não...") para alimentar o debate e conduzir os participantes às suas ideias. Esse "emergir" gradual é o chamado método maiêutico, que significa "parir". Parir ideias. Escrever a tese foi um parto. Escrever um livro é como ter um filho. O nosso cotidiano ainda está impregnado dessas ideias lançadas n

LAMPIÃO DE GÁS, QUANTA SAUDADE VOCÊ ME TRAZ

Só os nostálgicos acompanham e lembram de Inezita Barroso. Um marco do nosso cancioneiro popular. Foi de Inezita que lembrei quando, pensando na minha infância escolar, pensei nesses termos, caídos em desuso e destinados às palavras em via de extinção do blog: mimeógrafo, papel carbono e mata-borrão. Essas palavras teriam sentido hoje? Sim, por que não? Na época da reprodutibilidade técnica (para citar um termo caro aos benjaminianos e que é mais atual do que nunca), reproduzir de modo limitado e artesanal pode ser um diferencial. Certamente os documentos produzidos com a técnica do mimeógrafo tornam-se históricos e os estudos da difusão das matrizes poderia ser um ótimo assunto de pesquisa em relação às formas digitais (ou virais) de transmissão atuais, que nós, professores, chamamos de "copia e cola". E pensar que a cópia, ainda que humilde, foi determinante na transmissão dos grandes saberes da humanidade! E que o copiar foi método nas artes e na transmissão da cultu

RETROSPECTIVA: A LÍNGUA PORTUGUESA RUMO AO FUTURO

Mais um ano se encerra. E a língua segue o seu curso. Para quem pensa que retrospectiva faz sempre balanço, aqui vão notícias que abrem perspectivas para o português. Janeiro - É apresentado um protótipo de aplicativo para a tradução do português para a linguagem brasileira de sinais (Libras). A língua amplia as suas fronteiras quando se liga a outras linguagens. Ótima notícia para começar o ano. Favereiro - Até o final do século XXI, o português contará com 350 milhões de falantes nativos, aponta estudo. Março - O Papa não é brasileiro. Mas é gaúcho. Fronteiras compartilham culturas e saberes ultrapassam as línguas nacionais. Abril - O Parlamento da Região Autônoma da Galícia apresenta uma proposta interpartidária a favor da incorporação progressiva do ensino do português na grade curricular e futura exigência em concursos públicos; recepção aberta em rádio e televisão de programação falada em português; e participação formal da Galícia em eventos e em instituições internacionais

RISUS ABUNDAT IN ORE STULTORUM

O riso abunda na boca dos tolos. É o que ensina o dito popular. Será? Por que será que Aristóteles preocupou-se tanto com a comédia, prometendo até um texto dedicado somente a esse assunto, apesar de ele nunca ter sido encontrado? E Freud com o chiste? Por quê? E Bergson, que considerava o riso a mais humana das nossas características? E os gênios da literatura que se dedicaram ao gênero cômico? E Fernando Pessoa que elevou todos os ridículos ao sublime? Todos eles estariam preocupados com uma coisa boba? O riso é sem dúvida uma reação não-verbal com alto teor comunicativo. Supera as barreiras do autocontrole, explode de modo irrefletido, emerge aos fluxos mediado pelo raciocínio. Mas tem sempre uma causa comum: uma transgressão da linguagem, proposital ou ocorrida por distração, que aciona a reação imediata. Dou alguns exemplos: O político que diz durante um pronunciamento: "Aqui nesta cidade fundada por Rômulo e Rêmulo"... foi uma daquelas gafes que fizeram as p

O RETÓRICO, O PEDANTE E O ERUDITO NA ERA DA INFORMAÇÃO

Quem já leu vários textos aqui no blog percebeu que odeio pessoas retóricas e detesto pessoas pedantes. Volta e meia retorno ao tema, porque pedantes e retóricos, apesar dos tempos que correm, não perdem o vício e parece que não perdem a graça. É como na velha história: em terra de cego, quem tem um olho é rei. E assim, no nosso deserto cultural, que até parece fértil diante da oferta à disposição, pedantes e retóricos continuam a vender camelos, a serem os protagonistas do nosso oásis. Pena que o oásis é uma miragem. A primeira coisa que é preciso saber é que a sociedade de informação (uma das características marcantes do nosso tempo e que alguns chamam de forma otimista como sociedade do conhecimento) é uma sociedade com um grande problema de inflação e de reiteração de informação. Temos informação demais, informação desorganizada (ou melhor, organizada pelo algoritmo de Google para o público de massa que, pasmem, é formado em grande parte por pessoas formadas e bem formadas): qual