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SER IMIGRANTE, TER UM FILHO MAMEIRO


Não costumo colocar no blog elementos da minha vida pessoal, nem quero dar uma de Piaget e fazer teoria usando meu filho como cobaia, mas desta vez abro uma exceção para mostrar algo que acontece toda hora em uma língua viva: nasce uma palavra.
Ser a única estrangeira da família é uma questão que já não levanta mais polêmicas. A última discussão foi aberta pelo filho, que naturalmente tem o entusiasmo dos seus seis anos e não desiste nem diante do enésimo “não”. Estava desconsolado porque a mamãe fala bem italiano e continua afirmando que é brasileira, só brasileira. Então eu disse que a gente pode ser estrangeiro e falar bem uma língua estrangeira. E que em uma família as pessoas não são iguais. Na nossa família todo mundo é diferente e isso é muito interessante!
Essas conversas acontecem geralmente durante o café da manhã, entre um biscoito e um sanduíche, eu falando português, o pai falando italiano, e o filho falando as duas línguas.
Eu bato o pé com essa história de ser brasileira, brasileira e ponto. Então é o meu filho que vem procurar as pazes, o acordo, dizendo: “mamãe, eu te quero muito bem!”. Como se deixasse a entender: mesmo que você seja assim tão teimosa e não queira ser ítalo-brasileira como eu sou ítalo-brasileiro.
Aqui na Itália, o filho muito agarrado à saia da mãe, filho que adora a mãe acima de tudo, é chamado “mammone”. Então o meu filho, para enfatizar o conceito do “querer bem”, esses dias completou: “mamãe, eu sou muito mameiro!”.
Uau! Já fazendo neologismos. E com que propriedade. Sabe-se lá se associando a ser “brasileiro”, “mineiro” e todos os “-eiros” presentes no nosso cotidiano (blogueiro, tuiteiro, micreiro): nós também inventamos o tempo todo.
Não é uma invenção qualquer. É uma invenção que coloca em ação os sufixos típicos da língua para enriquecer o vocabulário com algum sentido que as palavras conhecidas não eram capazes de descrever. É um aportuguesamento do sentir. É a verbalização do sentimento no sentido literal do termo.
O português tem futuro. Também através dos brasileirinhos espalhados pelo mundo.

Comentários

  1. Parabéns polo artigo! Os neoloxismos dos nosos fillos, o noso futuro!

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  2. Carme, obrigada! Como é bom ler em galego e ver que todos nos entendemos!

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