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COM LÍNGUA E DENTES


Aos que costumam recordar que o brasileiro é um povo sorridente, recordo que mostrar os dentes é usar a mais arcaica das armas. Mas não de todo obsoleta.
A idade do ferro e do bronze estão aí para demonstrar o nosso engenho e arte, mas só na Idade Média demos o salto de qualidade, com o emprego da pólvora para fins bélicos. Dali à bomba atômica foi, historicamente falando, um passo.
Ah, mas o brasileiro é um povo pacífico! Nós não temos nada a ver com essa história feita de mortos e feridos. Os nossos compatriotas morrem todos em lenta agonia após longo desespero. Para os nossos moribundos temos o sorriso e a língua. Quantos recursos! Dos palavrões à ironia, da metáfora à hipocrisia. Em matéria de língua estamos entre os melhores. Ou piores.
Somos campeões em expectativa de milagres. Os nossos ditos populares estão cheios de sabedoria pronta para o uso: “Se Deus quiser”, “vai com Deus”, “vai com fé”. Se isso não bastasse, temos a espera do milagre cotidiano, as promessas renovadas a cada dia, como o “pão-nosso”: o “vamos ver”, o “estamos avaliando”, o “quem sabe”. E se uma das frases de ocasião não bastar, temos o sorriso. Desarmante. A evolução dos nossos arcaísmos.
Dispenso sorrisos. Quero mais língua. Mais sintaxe. Mais literalidade. É triste viver em um mundo de meias-palavras e de sorrisos falsos. Sorrisos que me agridem mais que um punhal.

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