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ACHADOS E PERDIDOS EM PORTUGAL

CLICK, CLICK, 2012. Graças à rede, que não pode ser informática se não for humana, recebi uma atenciosa e preciosa contribuição sobre o uso dos termos listados por Francisco José Freire, que apresentei no texto anterior. Várias pessoas repassaram o pedido de informação sobre o uso dos termos em Portugal e sou grata pela disponibilidade, pela rapidez com que comentaram a lista de palavras e pelo cuidado em fazer o material chegar direitinho ao meu endereço. Um exemplo virtuoso de corrente. Espero que os leitores possam tirar proveito. Para mim os resultados foram muito interessantes.
Reproduzo integralmente os comentários que me chegaram, só não cito o autor agora porque ainda não pedi sua autorização para fazer isso. Mas prometo agradecer devidamente assim que puder entrar em contato com todos os que participaram da coleta dos dados.

"Há palavras que os brasileiros utilizam e que por cá são considerados arcaísmos.
No entanto, na lista que me envias constam alguns termos de uso corrente.
Vejamos:

- “Acatar” tem utilização corrente. Exprime a ideia de aceitar um imperativo (acatar uma ordem);
- “Amamentar” tem utilização corrente. Diz-se da mãe (não só do ser humano, mas de qualquer mamífero) que alimenta a cria nos primeiros tempos de vida. Vulgarmente não usamos o termo “aleitar”;  
- “Andrajo” não tem utilização corrente. Utiliza-se, no entanto, vulgarmente, o termo “Andrajoso”, para significar “coberto de andrajos, ou de farrapos”.
- “Cata” tem utilização corrente, sobretudo nos meios rurais. Significa “procurar ou buscar”. Temos a expressão “vai-te catar”, com sentido pejorativo. Significa que alguém tem “pulgas” porque o verbo catar está associado ao gesto de procurar e matar pulgas. Temos também a expressão popular “andar à cata de…”, com o sentido de andar à procura;
- “Fadado” tem utilização corrente, com o sinónimo de “predestinado”;
- “Folia” tem utilização corrente, tratando-se de um termo popular que significa “festa”. É comum dizer-se “andei na folia até às tantas…”. O José Afonso tem uma canção célebre, em que uma velha se liberta das muletas e canta o refrão “vai de folia, vai de folia, que há sete anos não me mexia”;
- “Guarida” tem utilização corrente, significando “abrigo ou protecção”. Por cá usa-se muito a expressão “dar guarida”, quando recebemos alguém em nossa casa, sobretudo se era uma pessoa que estava com dificuldades;
- “Homologar” tem uso corrente. Uso essa expressão muito no tribunal, quando profiro uma sentença a “homologar” um acordo a que as partes chegaram. Trata-se de uma decisão “homologatória”, no sentido que torna vinculativos os termos do acordo;
- “Lusco – fusco” é uma expressão muito bonita, que usamos vulgarmente para designar o crepúsculo do fim de tarde;
- “Manancial” é uma expressão de uso corrente, para designar variedade (mais do que abundância);
- “Prol” é uma expressão de uso corrente, com o sentido “em defesa de…”. Diz-se “em prol da liberdade”, “em prol da melhoraria das condições de vida”, etc.;
- “Pujança” é uma expressão de uso corrente, para designar “vigor”. Pode dizer-se dum atleta “que está no máximo da sua pujança”, ou mesmo de uma árvore ou de uma planta “pujante”;
- “Roldão” é uma expressão de uso corrente com o sentido de “entrada abrupta”. Exemplo: entraram de roldão na sala.

- “Alardo” é uma expressão arcaica que designava a ostentação do poder de guerra. Não tem expressão corrente. Por cá, ainda usamos correntemente apenas o verbo “alardear”, com o sentido de “gabarolice” ou de “ostentação”. Normalmente é utilizada com conotação negativa (de fraude) “alguém que alardeia conhecimentos ou riqueza que, afinal, não tem”. Temos uma água famosa com o nome de “Alardo”;
- “Córrego” designava “caminho apertado” ou “pequeno regueiro de água”. Não tem utilização corrente. No entanto, quando estava na Beira Interior encontrei várias vezes essa expressão com o significado já referido;
- “Degrado” Não tem utilização corrente, o que não acontece com a expressão “de bom grado”, que se usa com frequência. Exemplo: “ofereceu-me água, aceitei de bom grado”;
- “Passamento” era um eufemismo muito utilizado na Idade Média, para designar a morte. Tenho encontrado essa palavra em muitos documentos antigos. Não tem utilização corrente;
- “Refestelo” significa estar numa posição cómoda em descanso. Não tem utilização corrente (o substantivo). No entanto, o mesmo não se passa com o verbo, que por cá se utiliza correntemente. Exemplo: depois do almoço vou-me resfestelar a dormir a sesta. Também se usa o adjectivo. Estava eu refestelado no sofá, quando tocaram à porta;
- “Sandeu” é uma expressão que deriva de uma exclamação de piedade (latina): “Sancte Deo!”. Por cá, usa-se, no entanto o verbo “ensandecer”, embora não seja uma expressão de uso popular;
- “Trabuco” era uma antiga máquina de guerra que expedia pedras. Por cá utiliza-se para designar uma arma antiga e ruidosa, mas não é uma expressão de uso corrente."

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