Um dos temas mais fascinantes na comunicação é o silêncio. Nessa área temos grandes mestres, mas tenho a sensação de que o assunto passa meio de longe pelos programas escolares e a realidade dá margem a certos estereótipos que distorcem o seu alcance e os seus efeitos.
O grande teórico do silêncio foi para mim Wolfgang Iser. O não-dito, as lacunas, os espaços encontrados em um texto eram para ele a esfera em que o leitor deveria ter um papel ativo para dar sentido a uma obra literária. É claro que numa comunicação entre dois interlocutores o papel dos atores é muito diferente, pois não se tem tempo para avaliar as pausas, as hesitações, as reformulações sem que isso implique necessariamente uma perda de foco na conversa. Contudo, concentrar-se excessivamente no que é dito é o erro perfeito de quem tem por lema “me engana que eu gosto”: especialmente se o interlocutor for hábil em retórica.
Há outros mestres nessa arte que muito me ensinaram: Machado de Assis, Clarice Lispector, Gabriel Garcia Marquez e Harold Pinter. De todos, porém, o que mais me impressiona é Pinter. Não pude ver toda a sua obra nos palcos, mas as peças a que pude assistir transmitiram aquela enormidade de silêncio que se traduz em perplexidade, medo, vergonha, raiva, dúvida.
Se podemos explicar o que é dito com sinônimos, metáforas, alusões, comparações, paralelismos, o silêncio tem um potencial infinito de possibilidades: é o abismo em que caímos cotidianamente sem perceber para que trevas somos carregados e onde podemos ficar perdidos para sempre com nossas ilusões.
Na minha família reinava o dito que se não podíamos dizer nada de bom de algo ou alguém, era melhor não dizer nada. E como tenho dito pouco, convém avisar que se trata apenas de atraso no cronograma. Há vários temas a serem propostos, mas o que ficar de fora não é obra do acaso.
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