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LÁ VAI BARÃO!

Quem tem uma certa idade lembra da expressão usada nos anos Oitenta para referir-se ao dinheiro no Brasil. Era época de inflação altíssima, ou hiperinflação, e as notas de mil cruzados, com a imagem do Barão de Rio Branco escorriam dos bolsos como areia entre os dedos.
O "barão", gramaticalmente falando, é uma metonímia. O Barão, sendo também nome de pessoa, é mais um dos tantos epônimos que usamos no cotidiano em português, quer dizer, uma palavra originária de um nome próprio que se presta para nomear outra coisa.
No Brasil usamos muitos epônimos, e não apenas na área científica, na qual uma norma internacional recomenda a sua abolição, mas persistem. Na medicina, por exemplo, há inúmeras doenças cujos nomes são associados a nomes de pessoas - geralmente pacientes ou médicos envolvidos com o diagnóstico. É o caso do mal de Parkinson, do mal de Chagas, da síndrome de Asperger, mas também outros nomes próprios podem estar na base de um epônimo, como a síndrome de Estocolmo. Na física e na química também há muitos casos: escalas de medidas como voltagem, amperagem, hertz e outras, derivam de nomes próprios. Muitos elementos da tabela periódica, do mesmo modo, são provenientes de personalidades que estudaram ou de locais onde foram descobertas as propriedades dos materiais: o laurêncio, o berquélio, o gadolínio e outros elementos são epônimos.
Dito isso, há um mundo de epônimos no cotidiano do português: de alfarrábio a gari, de leque a panfleto, de boicote a maionese. Mas também são epônimos do nosso dia-a-dia os nomes de alguns meses, tecidos e roupas (como biquini, astracã, angorá, organza, cetim, etc). As categorias são muitas e a lista é longa.
Voltando ao Barão, que é um epônimo, pois bem: a palavra "moeda" também é um epônimo. A história é a seguinte: conta a lenda que graças à deusa Juno, protetora de Roma, os seus gansos sagrados avisaram (em latim o verbo é "monere") que o monte Capitólio, onde se encontrava o seu templo e onde eram cunhadas as moedas, estava sendo ameaçado. Afastado o inimigo após o aviso dos gansos, a deusa recebeu o apelido de Juno Moneta. Daí a chamar de Moneta o dinheiro cunhado com a imagem da deusa Juno foi um passo. Como acontece ainda hoje quando chamamos o nosso dinheiro de "barão".
É impressionante a capacidade da língua de manter vivos esses instrumentos de criação lexical.
Por isso, acho interessante conhecer os epônimos e perceber quanto o conhecimento de diferentes línguas pode ser um vetor para aumentar rapidamente o vocabulário em uma língua estrangeira que ainda não conhecemos tão bem.
Para ficar no caso da palavra "moeda", derivada do nome Juno Moneta, temos:
"moneta" em italiano
"money" em inglês
"moneda" em espanhol
"münze" em alemão
"monnaie" em francês
"moneda" em romeno
"moneta" em polonês
E tenho quase certeza de que a lista é bem mais extensa, mas eu não fiz uma análise tão aprofundada.
Depois disso, poderíamos supor que evocamos personagens e histórias muito mais do que imaginamos quando pensamos que somos prosaicos no nosso cotidiano.

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