FAMA E SUCESSO

Quer fama e sucesso? Ótimo. Saiba então o que lhe espera. Para começar, são termos bem sedimentados na língua, o primeiro faz estreia no século XIII (quer dizer, nos primórdios), o segundo, no século XVI, derivando ambos do latim. Em outras palavras, não me admira que os jovens desejem fama e sucesso, esses velhos conhecidos, vocábulos que acompanharam descobridores, heróis, aventureiros, náufragos, piratas, capitães-do-mato, ladrões, pregadores e ateus confessos.

Por vezes usados com certa superficialidade em sentido positivo, como se isso fosse óbvio, convém lembrar que as coisas não estão bem assim: ainda hoje se goza de boa e má fama, tem-se bom e mau sucesso. Na maioria das vezes, porém, temos boa e má fama ao mesmo tempo, bom e mau sucesso simultaneamente. Aquilo que nos acontece, os nossos sucessos, são positivos ou negativos, de acordo com a perspectiva de quem observa.

Isso não quer dizer que sou relativista, que para mim as coisas se equivalem, que são simples questão de ponto de vista. Significa que quando alguém participa de certas rodas sociais, achando que isso é o maior (bom) sucesso, eu simplesmente acho vulgar. Assim como acho que a fama não subsiste sem conteúdo consistente, mas não por isso vou admirar facínoras que devem a sua fama aos atos mais cruéis.

Comecei falando do passado remoto e citando categorias que passaram à história por atos extraordinários, mas o tema continua mais atual que nunca. A massificação produziu milhões de aspirantes com o desejo de serem famosos, e o povo se perde no detalhe, na neutralidade do termo.

Não, engano-me: o povo não se perde na neutralidade da língua, o povo se perde na vida real, pura e simplesmente. Mas se prestasse atenção ao que diz e ao que deseja, talvez tais sucessos não se verificassem de forma tão corriqueira.