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APOLOGIA AO PALAVRÃO

Fique claro: a minha alma refinada engole de mau grado grosserias, palavras de baixo calão, vulgaridades, obscenidades, insultos em geral e o que mais possa ser colocado sob o guarda-chuva de “palavrão”. Observe-se também que “palavrão” é um daqueles eufemismos típicos do português: de fato, quando queremos rebaixar alguém de forma sutil (mas nem tanto), usamos o aumentativo: bobalhão, bestalhão, paspalhão, valentão, etc. Trata-se de palavras que passam sem grandes dificuldades pelo crivo dos ouvidos mais delicados.
Agora a apologia: o interesse sobre o assunto deriva de uma demanda real, das perguntas diretas que os estudantes fazem sobre o tema, com uma ponta de curiosidade e talvez de prazer em levantar questões constrangedoras e deixar os professores em maus lençóis. Eu não me faço de rogada e enfrento com classe para deixar bem claro que não é qualquer palavra que me assusta. Ao buscar uma resposta bem fundamentada, encontrei um texto do professor Cláudio Moreno, docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sobre os insultos, que defendia uma tese muito interessante: a de que o insulto na verdade é um sinal de evolução social do ser humano (http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2009/05/07/palavras-que-insultam/?topo=). O insulto seria a reação verbal em substituição à reação física. Quer dizer, o soco é a guerra, o palavrão é a diplomacia, ou melhor, o seu arremedo. Traduzindo, o palavrão tem o seu valor, não merece ser considerado sempre o vilão nas rodas gramaticais.
Epílogo: não poderia falar de palavrão e ficar saindo pela tangente até o fim da história. Às vezes é difícil resistir ao impulso de deixar escapar um insultozinho, mas o bom-senso e o pudor por sorte costumam levar a melhor. Razão pela qual a ironia é a minha arma preferida. De todo modo, aí vão os insultos que mais me causam tentação: “inteligência rara”, “cabeça de osso para sopa”, “joãozinho do pé certo”, “almofadinha”, “maria-vai-com-as-outras”. Paro por aqui, deixando um exemplo antológico testado na prática: “ki-suco”. O insulto surgiu assim: era uma colega que se divertia em rir dos erros alheios. Ria por baixo dos panos, mas eu percebi e não deixei barato. Chegando ao bar da universidade perguntei: alguém viu a ki-suco? Quem? – quiseram saber. Disse o nome do meu desafeto. Então me perguntaram: por que você a chamou de ki-suco? Resposta: porque é totalmente artificial. As risadas provocaram em mim efeito catártico. A vingança estava cumprida.

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