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CELEBRAÇÃO E GLÓRIA

As palavras "celebração" e "glória" são parentes longínquas: os seus ancestrais encontram-se no indoeuropeu, passando pelo grego e pelo latim. Para "celebração" encontramos o radical grego "kele-", que tem a ver com ocorrência, frequência, daí aparecer em palavras como "acelerar" ou "célere".  Já "glória" afunda suas raízes até o radical indoeuropeu "klu-", ligado ao sentido de ouvir, ser ouvido e chegando ao sentido figurado de "ser famoso", assimilado a "ser ouvido". Aquilo que ocorre, que aparece com frequência, que se ouve, que se torna famoso: celebração e glória.

Chega o final do ano e fazemos balanços, repassamos os momentos mais importantes, celebramos. Damos peso àquilo que já acontecia. É com esse espírito que compartilho com vocês um texto de minha autoria, que não por acaso intitulei "Todos os dias". Boas festas a todos e até o próximo artigo.



Todos os dias

Todos os dias
morre um jesus menino
Porque professa uma fé
E crer é ir além
da cruel humanidade:
Queres o céu?
Vai para o inferno!
Todos os dias ele morre
Porque nasce na rua
Na rua cresce
E na rua morre
Na total indiferença de muitos
Sob o aplauso dos impudentes,
Dos sádicos, dos fascistas
Morre todos os dias
Um jesus menino
Homem antes da hora
Rebelde
Sonhando pequenos milagres
O pão para todos
A vida eternamente
O amor entre as pessoas
Morre um jesus menino
De paternidade incerta
Um jesus que não se casa
Não tem filhos
Não tem mulher nem pátria
Um jesus que assusta
Por sua imensa
fragilidade
Morre todos os dias
Em cada vítima inocente
Em cada um de nós
Petrificados na sanha injusta
Das leis, nos tecnicismos
Pequenos herodes
Do dia-a-dia

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