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HEIN?

Eu adoro as interjeições. Pobre classe gramatical, especialmente quando é usada pelos jovens. Mas quando empregada por adultos, especialmente os chamados ilustres e respeitáveis, a interjeição enche o peito, vaidosa do papel que representa no teatro das figuras de linguagem.
Basta pronunciar um "hein" para que um diálogo mude totalmente o seu curso. O "hein" pode significar dúvida, descrédito, ironia, malícia, inveja, aversão, corroboração. "Hein" pode ser um mundo obscuro: um terreno onde prevalece a interpretação. E quando interpretamos, sabe-se, os limites são muito subjetivos.
Eu fico imaginando um diálogo à maneira de Esperando Godot, no qual um dos interlocutores repete continuamente a interjeição "hein". O cara diz nada e diz tudo. Enquanto isso, o mundo.

Mas "hein" tem algo mais que as virtudes semânticas. Possui também a beleza local da nossa fonética: não bastasse ser uma típica palavra nasalizada, também contém a ditongação que tanto caracteriza a nossa fala. A gente coloca ditongo em tudo: o ditongo é o arroz de festa da língua portuguesa.

Vou dar um exemplo:

Uma vez no Rio de Janeiro, fui comprar uma lembrancinha. Claro, a gente vai ao Rio e quer comprar lembrancinha, essas coisas bem turísticas da qual quase ninguém escapa.
Entro na loja, coloco a lembrancinha na mira e pergunto para a vendedora:
- Quanto custa?
- Trez(e) reais.
- Só três?
- Você quer dizer tre(i)s? Não, custa treze!
- Hein?

Ah, confundir três e treze pode, mas o hein é claríssimo. Treze era um pouco caro para a lembrancinha que eu estava procurando.






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