Brasileiro adora uma festa, imaginem se não teríamos no nosso calendário oficial o dia da bandeira, com direito a cerimônia e tudo! Claro que temos!
Aliás, para o Dia da Bandeira, 19 de Novembro, temos hino específico, escrito pelo Príncipe dos poetas, ou seja, Olavo Bilac - o mesmo que compôs o poema "Língua Portuguesa", eternizando o nosso idioma como "última flor do Lácio". Mas essa já é outra história.
Bandeira é uma das tantas palavras em português que se caracterizam pela polissemia. Já comentei isso em outros artigos: considero a polissemia um dos elementos característicos da nossa língua (aconselho escrever "polissemia" na janela de busca do blog para listar todos os artigos que mencionam esse tema). Resumo o conceito: a polissemia, por um lado, é uma riqueza, pois revela capacidade de dar sentidos diferentes para um mesmo termo, mas é também um fator de dificuldade para o falante, porque nem sempre temos domínio de todos os sentidos de uma palavra (sobretudo em uma língua falada em latitudes e longitudes muito diferentes). Certos termos polissêmicos significam coisas ingênuas em um país e coisas constrangedoras em outros. Isso também é língua portuguesa...
Bem, então vamos às peculiaridades da palavra "bandeira".
Além de ser um pedaço de tecido utilizado para representar uma nação, usamos bandeira em outros casos, alguns bem práticos, outros figurados.
Entramos no táxi, por exemplo: é importantíssimo saber a bandeira que está sendo aplicada, ou seja, a tarifa. No Brasil as bandeiras mais comuns são a Bandeira 1 e a Bandeira 2, mas acho que ainda usam a Bandeira 3, à noite, com malas. Em alguns lugares existia a Bandeira 4 (era uma verdadeira facada).
Passamos por uma repartição pública e vemos a "bandeira a meio pau": a região representada pela bandeira (cidade, estado ou país) está respeitando um luto. Isso não significa que as pessoas estejam fazendo um feriado, mas o Estado quer mostrar publicamente a consternação por algum acontecimento trágico.
"Bandeiras" também designam as expedições que caracterizaram um certo tipo de expansão territorial durante o período colonial. As "bandeiras" diferenciavam-se das "entradas" pela "oficialidade" de que se revestiam. As "bandeiras" carregavam literalmente a bandeira do reino, eram, portanto, uma invasão "oficial"; as entradas eram feitas por aventureiros mais aventureiros que os aventureiros oficiais. Resultado das "bandeiras" e das "entradas" é todo o território brasileiro à esquerda de São Vicente, no sul do Estado de São Paulo (ou seja, todos os Estados do Sul do Brasil, do Centro-Oeste e do Norte. É muita coisa, mas é assim).
Agora, a parte mais poética.
Bandeira, em primeiro lugar, é uma ideia que se defende. Exemplos: a bandeira da liberdade, a bandeira da paz, a bandeira da conciliação. As bandeiras geralmente veiculam valores compartilhados amplamente, mas não são necessariamente assim. Nesse sentido, podemos dizer que uma pessoa que defende uma ideia é uma pessoa que "carrega uma bandeira".
O contrário é a pessoa que "dá bandeira". Nesse caso, a pessoa quer esconder algo, mas o fato torna-se conhecido por sua própria indiscrição. Dar bandeira geralmente é péssimo.
Os casos acima não representam, claro, todos os usos, mas os mais comuns. Vejam alguns exemplos de utilização da palavra retirados de artigos jornalísticos:
"Já no caso de Pessoa Física, contribuintes do Imposto de Renda, deduzem até 6%. Espero que cada vez mais empresas pensem e levantem essa bandeira." (Ultimoinstante)
"A bandeira de cartão mais comum do mundo não é a Visa e nem a Mastercard." (ProXXIma)
"Raoni Mendes afirmou que a causa ultrapassa qualquer bandeira de oposição e situação." (PBAgora)
"O Posto Grifo funcionava há mais de dez anos e não pertence a nenhuma bandeira de distribuidora de combustíveis." (Novo Conexão Penedo)
"O que os opositores à privatização da TAP defendem é que o país precisa de uma companhia aérea de bandeira" (Económico)
"Muitos parlamentares que levantavam a bandeira dos direitos humanos como prioridade não foram reeleitos." (Zero Hora)
Aliás, para o Dia da Bandeira, 19 de Novembro, temos hino específico, escrito pelo Príncipe dos poetas, ou seja, Olavo Bilac - o mesmo que compôs o poema "Língua Portuguesa", eternizando o nosso idioma como "última flor do Lácio". Mas essa já é outra história.
Bandeira é uma das tantas palavras em português que se caracterizam pela polissemia. Já comentei isso em outros artigos: considero a polissemia um dos elementos característicos da nossa língua (aconselho escrever "polissemia" na janela de busca do blog para listar todos os artigos que mencionam esse tema). Resumo o conceito: a polissemia, por um lado, é uma riqueza, pois revela capacidade de dar sentidos diferentes para um mesmo termo, mas é também um fator de dificuldade para o falante, porque nem sempre temos domínio de todos os sentidos de uma palavra (sobretudo em uma língua falada em latitudes e longitudes muito diferentes). Certos termos polissêmicos significam coisas ingênuas em um país e coisas constrangedoras em outros. Isso também é língua portuguesa...
Bem, então vamos às peculiaridades da palavra "bandeira".
Além de ser um pedaço de tecido utilizado para representar uma nação, usamos bandeira em outros casos, alguns bem práticos, outros figurados.
Entramos no táxi, por exemplo: é importantíssimo saber a bandeira que está sendo aplicada, ou seja, a tarifa. No Brasil as bandeiras mais comuns são a Bandeira 1 e a Bandeira 2, mas acho que ainda usam a Bandeira 3, à noite, com malas. Em alguns lugares existia a Bandeira 4 (era uma verdadeira facada).
Passamos por uma repartição pública e vemos a "bandeira a meio pau": a região representada pela bandeira (cidade, estado ou país) está respeitando um luto. Isso não significa que as pessoas estejam fazendo um feriado, mas o Estado quer mostrar publicamente a consternação por algum acontecimento trágico.
"Bandeiras" também designam as expedições que caracterizaram um certo tipo de expansão territorial durante o período colonial. As "bandeiras" diferenciavam-se das "entradas" pela "oficialidade" de que se revestiam. As "bandeiras" carregavam literalmente a bandeira do reino, eram, portanto, uma invasão "oficial"; as entradas eram feitas por aventureiros mais aventureiros que os aventureiros oficiais. Resultado das "bandeiras" e das "entradas" é todo o território brasileiro à esquerda de São Vicente, no sul do Estado de São Paulo (ou seja, todos os Estados do Sul do Brasil, do Centro-Oeste e do Norte. É muita coisa, mas é assim).
Agora, a parte mais poética.
Bandeira, em primeiro lugar, é uma ideia que se defende. Exemplos: a bandeira da liberdade, a bandeira da paz, a bandeira da conciliação. As bandeiras geralmente veiculam valores compartilhados amplamente, mas não são necessariamente assim. Nesse sentido, podemos dizer que uma pessoa que defende uma ideia é uma pessoa que "carrega uma bandeira".
O contrário é a pessoa que "dá bandeira". Nesse caso, a pessoa quer esconder algo, mas o fato torna-se conhecido por sua própria indiscrição. Dar bandeira geralmente é péssimo.
Os casos acima não representam, claro, todos os usos, mas os mais comuns. Vejam alguns exemplos de utilização da palavra retirados de artigos jornalísticos:
"Já no caso de Pessoa Física, contribuintes do Imposto de Renda, deduzem até 6%. Espero que cada vez mais empresas pensem e levantem essa bandeira." (Ultimoinstante)
"A bandeira de cartão mais comum do mundo não é a Visa e nem a Mastercard." (ProXXIma)
"Raoni Mendes afirmou que a causa ultrapassa qualquer bandeira de oposição e situação." (PBAgora)
"O Posto Grifo funcionava há mais de dez anos e não pertence a nenhuma bandeira de distribuidora de combustíveis." (Novo Conexão Penedo)
"O que os opositores à privatização da TAP defendem é que o país precisa de uma companhia aérea de bandeira" (Económico)
"Muitos parlamentares que levantavam a bandeira dos direitos humanos como prioridade não foram reeleitos." (Zero Hora)
Comentários
Postar um comentário