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DEVAGAR COM O ANDOR!

Então, para o pessoal que leu o meu desabafo no texto anterior (http://palavrasdebulhadas.blogspot.it/2014/03/o-jogo-dos-sete-erros.html): vamos falar um pouco dos erros crassos?

Premissa:
1. Quando digo "devagar com o andor", estou fazendo uma alusão ao fato de não estar comentando um texto qualquer, mas um texto presidencial, pronunciado diante de autoridades supranacionais. Todavia, alguns erros do texto mostram que o discurso também deveria ter levado em consideração os interlocutores que menciona. Já veremos isso.



2. Quando menciono "erros crassos", gostaria de lembrar que a escolha da expressão não é casual. Crasso (esse senhor representado na escultura acima) ficou conhecido na história por ter subestimado o poder do Império Pártia (uma região que hoje corresponderia a uma parte do território iraniano), perdendo não apenas a batalha, mas a própria vida, na vanglória de conquistar aquela província para si.

É isso, devagar com o andor...

Primeira coisa:

"Herman Van Rompuy, presidente do Conselho da União Europeia, excelentíssimo e amigo José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia."

Ouvindo a gravação do discurso da Presidenta em Bruxelas, percebe-se que houve um corte no início do texto gravado. Muito bem, poderiam ter apresentado delicamente o problema para Sua Excelência e acrescentado um "excelentíssimo" antes de Herman Van Rompuy, que não é uma pessoa qualquer, muito menos amigo, e que, como manda o protocolo, deve ser sempre tratado como "excelentíssimo". Lição básica de pronomes de tratamento.

Segunda coisa:

"Ao cumprimentar os dois, cumprimento dos empresários brasileiros aqui presentes."

Como é? "Cumprimento dos empresários"? Quem é que está cumprimentando quem? Isso se chama erro de revisão. Nem precisa permissão da Presidenta para corrigir. Não importa que se trate de um ato falho ou que seja um problema de áudio: revisa-se e ponto final. E uma consideração: se na hora de transcrever um texto o "assessor de imprensa" copiasse todos os suspiros, todas as hesitações, todas as pausas... O que estaria fazendo? Com certeza faria a alegria dos linguistas, pois esses elementos são preciosos na comunicação, mas não interessam minimamente para o leitor que quer saber o que a Presidenta declarou na Bélgica.

Terceira coisa:

"É com satisfação que eu participo desta VI [VII] Cúpula Empresarial Brasil-União Europeia."

De qual cúpula estamos falando? Da VI ou da VII? Antes não revisam, depois têm o escrúpulo que usar colchetes. Outro erro de jornalista principiante. Se avaliou que o erro precisa ser evidenciado, não precisa usar colchetes, coloca-se um "sic" entre parênteses e deixa-se que o leitor se informe por conta própria. Os colchetes são usados para mostrar (evidenciando bem) que o autor errou. Mas fica chato corrigir o chefe publicamente, não é? Geralmente, essas correções são feitas pela imprensa (inclusive com o uso do "sic"); a sala de imprensa, que divulga a notícia para os demais meios de comunicação, poderia deixar o erro (ou melhor, provavelmente um lapso) ou corrigir diretamente, sem evidenciar o deslize cometido na fala.

Só para começar, três erros, e três erros bem chatos, erros crassos para quem assessora a Presidenta.

Fico por aqui, por enquanto, para não fazer um texto longo e maçante. Mas a história poderia continuar, ah, poderia.

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