"Quase sem querer", diria Renato Russo, ou "sem querer querendo", por excessiva distração, por pouco cuidado e delicadeza, por ignorância ou por preguiça, perpetuamos no nosso repertório a utilização de palavras que marcam um período assinalado por preconceitos, dominação e exclusão. Essa não é uma defesa simplória do "politicamente correto", que é usado como arma de policiamento da linguagem, mas um convite a enquadrar termos que adquiriram um sentido novo, e depreciativo. Sou da opinião que colocar uma pedra sobre certas coisas não ajuda a superar realmente o problema, se não entendemos as causas de um fenômeno, estamos sujeitos a repetir os mesmos erros do passado, a repropor os mesmos esquemas semânticos com palavras novas. Por isso, partindo da ótima discussão surgida a partir do último texto "Caro Al...", gostaria de listar alguns vocábulos que podem passar em brancas nuvens, sem que o falante perceba o quanto possa estar sendo indelicado ao utilizá-las.
"Que gracinha, tá banguela": quer dizer, significa desdentado, ou também pode se referir a pessoa que fala mal. Essa concepção, evidenciam algumas fontes, está associada ao fato de ter sido costume na Angola (onde se situa a região de Benguela) limar os dentes frontais. Contudo, acho que o termo ganhou popularidade no Brasil devido à existência de muitas pessoas desdentadas, especialmente entre os escravos, mas não só nessa população, em virtude das péssimas condições de higiene em que viviam. A expressão "na banguela", quer dizer, estar com a marcha do veículo desengatada, também está associada ao "dente" da engrenagem que está desconectado da transmissão.
"Judia de mim": essa era refrão de pagode, é uma expressão infeliz. Traz consigo o preconceito em relação aos judeus. Escavando o uso do termo, teremos que percorrer vários séculos de injúrias que o povo judeu sofreu a fim de que algumas culturas dominantes (cada qual a seu tempo) pudessem explicar a perseguição que lhe impuseram. Entre as típicas acusações, estava a suposição de que os judeus "maltratavam"... daí a associação ao fato de maltratar com o termo "judiar".
"Para mim é grego": não chega ser uma ofensa, mas algo complicado, incompreensível, precisa estar ligado à pátria da filosofia, da ciência que indaga e busca respostas por excelência?
"Vá para a cochinchina!": essa é sem dúvida uma ofensa, mandar o sujeito para a Cochinchina não é sugerir que ele vá conhecer o atual Vietnã, antiga colônia francesa, aliás, descoberta pelos portugueses. Mandar para lá significa mandar a pessoa para um lugar bem distante, para o fim do mundo. É o último esforço linguístico antes de passar para o confronto físico... Sim, a Cochinchina fica longe, e ir para bem longe, na cultura da saudade, significa dar um castigo.
"Que gracinha, tá banguela": quer dizer, significa desdentado, ou também pode se referir a pessoa que fala mal. Essa concepção, evidenciam algumas fontes, está associada ao fato de ter sido costume na Angola (onde se situa a região de Benguela) limar os dentes frontais. Contudo, acho que o termo ganhou popularidade no Brasil devido à existência de muitas pessoas desdentadas, especialmente entre os escravos, mas não só nessa população, em virtude das péssimas condições de higiene em que viviam. A expressão "na banguela", quer dizer, estar com a marcha do veículo desengatada, também está associada ao "dente" da engrenagem que está desconectado da transmissão.
"Judia de mim": essa era refrão de pagode, é uma expressão infeliz. Traz consigo o preconceito em relação aos judeus. Escavando o uso do termo, teremos que percorrer vários séculos de injúrias que o povo judeu sofreu a fim de que algumas culturas dominantes (cada qual a seu tempo) pudessem explicar a perseguição que lhe impuseram. Entre as típicas acusações, estava a suposição de que os judeus "maltratavam"... daí a associação ao fato de maltratar com o termo "judiar".
"Para mim é grego": não chega ser uma ofensa, mas algo complicado, incompreensível, precisa estar ligado à pátria da filosofia, da ciência que indaga e busca respostas por excelência?
"Vá para a cochinchina!": essa é sem dúvida uma ofensa, mandar o sujeito para a Cochinchina não é sugerir que ele vá conhecer o atual Vietnã, antiga colônia francesa, aliás, descoberta pelos portugueses. Mandar para lá significa mandar a pessoa para um lugar bem distante, para o fim do mundo. É o último esforço linguístico antes de passar para o confronto físico... Sim, a Cochinchina fica longe, e ir para bem longe, na cultura da saudade, significa dar um castigo.
Não se pode perder uma vida por negligência. Não se pode aceitar uma tragédia coletiva que poderia ter sido evitada. Com Santa Maria.
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