Quem vive às margens do Mediterrâneo ou tem nas veias a consciência dos laços ancestrais que ligam culturas aparentemente tão diferentes e profundamente tão humanas sabe que todo dia é dia de respirar, contar até dez e começar de novo.
Os nossos hábitos gastronômicos estão aí para mostrar que estamos muito mais perto das culturas "distantes" do que parece. Exemplo? O pastel, unanimidade no Brasil e em Portugal, não é nada mais que uma versão do rolinho primavera chinês, adaptado e ampliado com criatividade e sabor local. O tempura, que comemos nos restaurantes japoneses, é um prato introduzido pelos jesuítas no Japão - vem da expressão "ad tempora quadragesimae" - porque durante a Quaresma não se come carne, mas uma verdurinha preparada de modo caprichado não ofende ninguém... E a panqueca, o que é? Uma transliteração do "pancake"...
Depois temos o velho Al... artigo da língua árabe anexada às palavras que absorvemos ao longo do convívio de séculos com as culturas dos seguidores de Maomé: almôndegas, alcaparras, alcachofras, alcaçuz, alecrim, alface, etc.
E para não dizer que só de pão vive o homem, temos muitos outros al-: álgebra, alfarrábio, almofada, alvoroço, algazarra (essa eu adoro pela musicalidade), mas também algarismo, algoz (ou o lusitaníssimo carrasco), algodão (do árabe al-qutun, daí em muitas línguas entrar como "cotton" e palavras semelhantes)...
E tem também alcaide (para nós, brasileiros, é uma palavra antiga para indicar uma espécie de oficial de justiça). Da definição do Aurélio: do árabe al-qa'id (guia, chefe)... Percebem o que pode significar hoje o famigerado grupo Al Qaeda? Dá para imaginar, mesmo sem conhecer a língua árabe, só pensando um pouco em português. Dá para supor, sem entrar na crônica dos jornais e na análise política, que é um movimento de tipo messiânico, que aposta no líder carismático, no guia que fascina. É, como toda palavra rica e ambivalente, uma palavra perigosa, e temos visto na última década o que de negativo encerra.
Quem vive às margens do Mediterrâneo ou tem nas veias a consciência dos laços ancestrais que ligam culturas aparentemente tão diferentes e profundamente tão humanas sabe que todo dia é dia de respirar, contar até dez e começar de novo. Começar a pensar que não há palavras boas ou más por excelência, mas há palavras que são bem ou mal usadas pelos seus falantes.
Os nossos hábitos gastronômicos estão aí para mostrar que estamos muito mais perto das culturas "distantes" do que parece. Exemplo? O pastel, unanimidade no Brasil e em Portugal, não é nada mais que uma versão do rolinho primavera chinês, adaptado e ampliado com criatividade e sabor local. O tempura, que comemos nos restaurantes japoneses, é um prato introduzido pelos jesuítas no Japão - vem da expressão "ad tempora quadragesimae" - porque durante a Quaresma não se come carne, mas uma verdurinha preparada de modo caprichado não ofende ninguém... E a panqueca, o que é? Uma transliteração do "pancake"...
Depois temos o velho Al... artigo da língua árabe anexada às palavras que absorvemos ao longo do convívio de séculos com as culturas dos seguidores de Maomé: almôndegas, alcaparras, alcachofras, alcaçuz, alecrim, alface, etc.
E para não dizer que só de pão vive o homem, temos muitos outros al-: álgebra, alfarrábio, almofada, alvoroço, algazarra (essa eu adoro pela musicalidade), mas também algarismo, algoz (ou o lusitaníssimo carrasco), algodão (do árabe al-qutun, daí em muitas línguas entrar como "cotton" e palavras semelhantes)...
E tem também alcaide (para nós, brasileiros, é uma palavra antiga para indicar uma espécie de oficial de justiça). Da definição do Aurélio: do árabe al-qa'id (guia, chefe)... Percebem o que pode significar hoje o famigerado grupo Al Qaeda? Dá para imaginar, mesmo sem conhecer a língua árabe, só pensando um pouco em português. Dá para supor, sem entrar na crônica dos jornais e na análise política, que é um movimento de tipo messiânico, que aposta no líder carismático, no guia que fascina. É, como toda palavra rica e ambivalente, uma palavra perigosa, e temos visto na última década o que de negativo encerra.
Quem vive às margens do Mediterrâneo ou tem nas veias a consciência dos laços ancestrais que ligam culturas aparentemente tão diferentes e profundamente tão humanas sabe que todo dia é dia de respirar, contar até dez e começar de novo. Começar a pensar que não há palavras boas ou más por excelência, mas há palavras que são bem ou mal usadas pelos seus falantes.
Javier, leitor do blog, comenta que em espanhol, a sua língua nativa, "al quaid" dá "alcaide" (em espanhol, chefe de um castelo) ou "alcázar" (o próprio castelo ou fortificação) e alcalde (presidente duma câmara municipal). "Al Qaeda" em árabe significa "a base". Agradeço pela colaboração e aproveito para deixar aos leitores essa reflexão: ao longo do tempo as palavras ampliam ou restringem seu campo de significado, mas como é interessante observar comparativamente o campo semântico em que se colocam termos aparentemente tão distantes.
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