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ANO NOVO, PALAVRA NOVA

Nem tudo que é novo é bom. O termo "exodado" é exemplo disso.
"Exodado": você nunca ouviu falar dessa palavra? Provavelmente não.
Participo de um portal de tradução como voluntária e recentemente o administrador do glossário solicitou a tradução em várias línguas do neologismo italiano "esodato". O termo foi escolhido como palavra do ano na Itália e esse fator deve ter contribuído para que a sua tradução se tornasse necessária.
O que é um "esodato"? Para traduzir o termo é preciso em primeiro lugar entender a essência. Por que os italianos sentiram a necessidade de inventar um termo novo?
"Esodato" é uma pessoa que fez um êxodo do mercado de trabalho, quer dizer, saiu do mercado do trabalho. É uma analogia ao êxodo dos judeus que, guiados por Moisés, deixaram o Egito, onde eram escravos, atravessaram o deserto e chegaram até o Monte Sinai para a nova aliança. É um texto muito rico, portanto os leitores perdoem por favor a extrema e inapropriada síntese.

Plim! Em português, claro, a tradução só poderia ser "exodado".
O único problema é que não existe o verbo "exodar". Como também não existe "esodare" em italiano.
"Exodado" adquire assim uma importância que os particípios/adjetivos nem sempre possuem, por sua natureza nominal e acessória em relação à potência dos verbos na sua forma ativa.
"Exodado" revela toda a sua dramática passividade e impotência diante de um sistema que nunca dá nomes aos autores das ações.
Para entender bem como o termo "exodado" está profundamente ligado ao momento atual de crise na Europa, segue o final da história: os exodados são pessoas que deixaram o mercado de trabalho através de um acordo com as empresas e incentivo do governo para contratação de jovens. As empresas comprometiam-se a pagar uma indenização que cobria os últimos meses de contribuição para atingir os requisitos para a aposentadoria e assim abria-se uma nova vaga no mercado de trabalho (certamente contratando com um salário inferior, daí a vantagem de dar a indenização ao exodado). Muitas pessoas aceitaram a proposta e estavam contando os dias para a aposentadoria, enquanto pagavam as contribuições previdenciárias com a indenização recebida, quando o governo mudou a lei previdenciária, aumentando o limite de idade e de tempo de contribuição para a aposentadoria.
É como se Moisés tivesse libertado os judeus e depois abandonado o pessoal no meio do Mar Vermelho sem dar nem um salva-vidas. Uma traição.
Consequência: muito protesto, muita passeata, pessoas desesperadas.
Desfecho: depois de muito barulho, o governo resolveu encontrar um "mecanismo legislativo" (este ano prometo dedicar um texto ao "mecanismo", que eu detesto) que permitisse à maioria dos exodados gozar do direito de aposentadoria com o número de contribuições estabelecido no acordo para o êxodo. Digo "maioria" porque sempre fica alguém de fora, para quem o socorro chega tarde demais.


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