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NÃO É BAGUNÇA, É ENTROPIA

Em junho deste ano dediquei uma postagem aos termos utilizados para definir os manifestantes que protestavam e estão protestando em todo o Brasil:
http://palavrasdebulhadas.blogspot.it/2013_06_01_archive.html

Mas na lista dos termos faltou uma palavra brasileiríssima: bagunça.

A sua origem não é clara, as fontes que consultei sugerem raízes bem diferentes: para alguns, a palavra vem do celta, para outros do francês, outros dizem que pode ter surgido em Minas Gerais, derivada da palavra bagaço. Pessoalmente, acho a última hipótese interessante, mas é bom deixar claro que estamos falando de gosto, não de provas. Talvez, um dia, as provas da sua origem sejam reencontradas, em um texto velho, empoeirado, perdido em algum arquivo ou sótão. Encontrar a fonte do seu uso primordial na língua representaria o elo perdido para entendermos essa palavra tão comum e tão usada entre nós.

E a história acaba assim, explicando que não sabemos onde tudo começou? Claro que não. Porque a bagunça tem muito a dizer sobre o futuro. Explico.

Entre os vários aspectos do pós-modernismo, que para muitos é uma teoria capaz de explicar dinâmicas sociais, históricas, movimentos artísticos e discursos filosóficos do nosso tempo, há a entropia.

O termo entropia vem da física, é a medida do grau de desordem de um sistema. O pós-modernismo, nesse sentido, também buscou outras relações científicas para tentar entender a organização humana: por exemplo, a teoria do caos, ou a análise de fractais.



Os estudos baseados nas analogias com entropia, caos e fractais explicavam que o sistema, uma vez iniciada a bagunça, tendia a ficar cada vez mais bagunçado. O interessante, contudo, é que as ciências exatas revelavam que o caos tem em certa medida uma espécie de organização, aspectos que permitem identificar o caos como caos e não outra coisa. Os fractais ajudavam a entender isso, mostrando como figuras complexas (como a que reproduzimos aqui), que escapam à geometria baseada em duas e três dimensões, possuíam todavia sequências que se repropõem.

Tudo isso dá outra dimensão para a bagunça. Sugere que a bagunça é um fenômeno complexo, que foge aos esquemas tradicionais de organização, que tende a aumentar, a apresentar sequências que se repetem, a conter muitos elementos imprevisíveis, mas que na sua imprevisibilidade podem ser claramente definidos bagunçados.

O Brasil deveria prestar muita atenção à sua bagunça atual. Pois a bagunça, esse termo tão familiar para nós, não é apenas um elemento negativo nas nossas vidas e na nossa sociedade: é um elemento cada vez mais distintivo das nossas vidas e da nossa sociedade. É preciso aprender a conviver e a administrar a bagunça!

Não estou brincando. Estou chamando a atenção para um dos aspectos mais interessantes (e que talvez não tenha sido suficientemente salientado pelos próprios pós-modernistas) para tentar entender o nosso mundinho. A nossa bagunça atual é um prato cheio para quem quiser desvendar e buscar soluções para administrar sistemas complexos.

Mas sempre há o plano B: deixar o barco correr, empurrar com a barriga, esperar para ver. Bem, nesse caso, não é preciso nem pensar, basta ler um manual de física e de matemática para saber qual é o final da história.

A importância das ciências humanas está aí, em ser um meio termo entre a teoria e a aplicação. As ciências humanas podem pegar uma teoria e sugerir um caminho. Não somos arquitetos, não construímos pontes nem palácios. Formamos pessoas, que devem, cada uma na sua experiência pessoal, ser um elemento desse mundo complexo, caminhar e construí-lo. Tudo isso enquanto tenta entender se a bagunça vai virar um fractal ou não.

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