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TRADUZIR É...

1. Conhecer o vocabulário das línguas de trabalho e dedicar-se a aprimorá-lo sempre
2. Dominar as diferentes estruturas sintáticas
3. Ser capaz de transpor diferentes registros linguísticos
4. Ser capaz de reproduzir em diferentes idiomas as suas musicalidades
5. Tentar captar as intencionalidades e saber sugeri-las em outra língua
6. Saber identificar o destinatário ideal do texto original e saber imaginar o destinatário na língua traduzida
7. Procurar metáforas que se aproximem de uma equivalência
8. Tentar ser fiel
9. Reconhecer as próprias limitações e tentar superar os próprios limites
10. É gostar de resolver problemas e saber que sempre haverá um resíduo de incompreensão

Escrevi os nove primeiros pontos só para chegar ao décimo, porque estou convencida de que o bom tradutor permanece sempre um pouco incompreendido. O bom tradutor obviamente conhece bem a língua, as suas estruturas fonéticas, lexicais, sintáticas e semânticas. Sabe que um texto tem um autor real ao qual tentar ser fiel e um leitor ideal que espera encontrar na língua traduzida. Sabe que não é perfeito. Mas não sei se todo tradutor sente-se bem nessa posição de meio - de mediador, como gostava de salientar o Professor Castorina. O mediador tenta colocar em sintonia duas sensibilidades diferentes: é algo que vai bem além da língua. Envolve tradições, costumes, hábitos que deixam rastros na língua, mas nem sempre os vestígios são evidentes. Encontrar o ponto justo de encontro de sensibilidades diferentes é uma arte quase nunca realizável na prática. Ou se fica com a sensação de que o texto traduzido é "exótico", ou se tem a sensação de que é tão familiar que as diferenças tornam-se imperceptíveis. O paradoxo é sempre o mesmo: um texto exótico nem sempre é exótico no original; e um texto familiar demais na língua traduzida geralmente não exige do leitor aquele esforço para conhecer o "outro". De uma ou de outra forma, a tradução deixa algo a dever.

11. Traduzir é educar para a diferença

Com o tempo, o bom tradutor consegue furar a barreira do horizonte habitual do leitor. Para obter esse efeito é preciso tempo, textos e mestria. Que prazer e que alegria quando o leitor descobre um mundo diferente do seu: reconhece, aprecia e consegue entrar em sintonia com uma sensibilidade diferente da sua. É aí que a tradução cumpre o seu pequeno milagre e faz os leitores sentirem-se parte de uma comunidade que vai muito além das suas fronteiras culturais de origem. A sensibilidade do leitor enriquece-se com nuances inesperadas e a sua pertença se alarga. Ficamos mais humanos, mais parte dessa grande e variada humanidade que compõe o nosso planeta. Menos provincianos e nacionais, sem perder raízes e culturas. Agregando o que o mundo tem de bom. Reconhecendo o que há de mau.

12. Traduzir é um longo caminho.

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