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QUE TAL?

Hoje começo utilizando o péssimo costume dos internautas: citando. Segue a definição de "tal" de acordo com o Dicionário Aurélio.

[Do lat. tale, 'semelhante'.]
Pron.  
 1. Semelhante, análogo, tão bom, tão grande, etc.   
 2. Este, aquele; um certo
 3. Isso, aquilo
 4. Us. depois de um substantivo, pode substituir um nome que se quer ou se finge ocultar 
 5. Lus.  Designa quantidade que excede em número redondo; tanto(s)
S. 2 g. 
 6. Bras.  Gír.  Pessoa que tem, ou julga ter valor excepcional em qualquer coisa; o notável, o batuta, o bamba, o ás  

"Tal" parece uma palavrinha tão inofensiva... mas pensando bem, complica a vida do falante, especialmente se não for falante nativo, porque admite muitos usos idiomáticos.

Começo pela expressão "que tal?". Em muitos lugares, "que tal" introduz uma pergunta que equivale a "o que acha de...?". Exemplo: "Que tal um cineminha hoje?". Mas no Sul costumamos usar também para substituir a expressão "como vai?". Acho que se trata de um regionalismo, apoiado no espanhol platino.

"Etc. e tal": é uma daquelas expressões que beiram a redundância, mas eu adoro. Claro que a frase pode sempre terminar no Etc.

"A tal da...": também essa expressão tem seu valor criativo. Quando dizemos, por exemplo, "a tal da saudade foi a minha ruína", queremos enfatizar uma saudade que é claramente reconhecida.

"Fulano de tal" é uma expressão-coringa: serve para desconsiderar o nome de pessoa a que se refere a ação. Muito útil para quem tem ojeriza à transparência. (Escrevi a frase anterior há dois dias e não me vinha um exemplo para confirmar a suspeita. Graças à internet encontrei essa notícia que é uma pérola: batata!) Aí vai a citação, antecidida pelo título - muito sugestivo para o conceito de "fulano de tal" que dei aqui: 

"Inadimplentes com a Lei da Transparência serão alvo do MPC 
[...] As páginas dos 42 municípios e nove câmaras municipais que aderiram ao portal possuem apenas os links referentes às despesas, mas nenhum deles continha informações financeiras da administração municipal, até a tarde desta segunda-feira, último dia do prazo para a publicação na internet.
Em todas as páginas aparecem os links Receitas, Despesas, Balanços, Planejamento Orçamentário, Convênios, Licitações e Contratos, Servidores e Secretarias e Órgãos. Mas ao clicar em um deles, o usuário é direcionado à lista mensal de pastas, de janeiro a junho, que não contém informações.
No link ‘Secretarias e órgãos’, onde deveria constar o nome dos secretários, além de endereços e contatos das secretarias municipais, aparece “secretário: fulano de tal” e “endereço: Rua tal de tal, nº 88”."

"O tal": é o máximo absoluto, mas no sentido pejorativo. O artigo tem uma função importante aqui, pois especifica. Lanço mão de um exemplo para demonstrar isso: se digo "ele não é um amigo, ele é o amigo", significa que este é o melhor amigo. Se, em vez, digo "ele é o tal", a função especificadora do artigo contrasta com o valor aproximativo de "tal". Essa ambiguidade desmascara que, no fundo, "o tal" não é o máximo em tudo, mas o máximo em algo que ninguém sabe bem o que é, a não ser o próprio sujeito. É por isso que, em geral, essa expressão se encontra em frases como "ele se acha o tal", com o verbo reflexivo!

"Tal pai, tal filho": é um dito popular. Usa-se para dizer que são iguais em tudo, especialmente no gênio! Quando a semelhança é física é mais comum ouvir "é a sua cara".

"Tal como": eta gente que gosta de uma redundância! Para simplificar, dá para usar só o "como", deixando o "tal" sossegado. Exemplo: "O filho seguiu a profissão de maquinista tal como o pai". Tentem ler tirando o "tal" e observem se sentem falta dele.

"Talzinho": como muitos diminutivos, pode ser usado para denegrir.

E daí, que tal?

Até a próxima!

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