Por que "As mil e uma noites" continua encantando?
Há muitas respostas para explicar o fenômeno e há dezenas de autores que se debruçaram sobre o tema. Continua encantando porque é um clássico, porque é universal. Então é preciso entender o que é um clássico, o que significa ser um texto universal. Resumindo em palavras muito simples, digamos simplórias por sua extrema síntese: "As mil e uma noites" continua encantando porque possui aqueles elementos que magnetizam a atenção do leitor e que continuam a magnetizar geração após geração. O clássico está além das escolas, dos períodos históricos e... além da idade.
Estou relendo com meu filho "As mil e uma noites", em versão traduzida, mas não adaptada para a infância. Estou comprovando na prática o que já teorizo há muito tempo (sobre a leitura): que não há texto certo para uma faixa etária, mas que há faixas etárias para o bom texto. Um bom texto pode ser apreciado em maior ou menor grau por diferentes categorias de leitores e, contrariando algumas correntes didáticas, defendo a apresentação de clássicos (de Camões a Shakespeare, de Fernando Pessoa a Guimarães Rosa) desde a mais tenra idade. O importante é escolher o texto certo. Há um Camões que não pode ser apreciado aos dez anos de idade, mas há um Camões lírico que já confirmei na prática (bem antes dos anúncios publicitários que o popularizaram na tv brasileira) cair nas graças do sentimento da primeira puberdade. Há um Fernando Pessoa que exige profundidade e maturidade, que nem sempre atingimos aos trinta anos, e há um Fernando Pessoa que toca a sensibilidade pueril.
Há uma Xerazade que acompanha os primeiros bocejos da noite que se aproxima e que já se transformou em companhia indispensável antes da despedida cotidiana: "boa noite, mamãe!"
O que essa Xerazade tem de especial e que conquista a curiosidade do meu pequeno ouvinte? Suspense: há sempre algo que continua no dia seguinte. Personagens do cotidiano: o comerciante, o pescador, o rei, o pastor, o pai, o filho, cada um com o seu papel definido (coisa rara na nossa época de fragmentação, incertezas e precariedade). Fórmulas: as fórmulas pronunciadas por gênios, por mulheres com o dom do feitiço, fórmulas que são repetidas como uma espécie de mantra e que permitem ao leitor antecipar a próxima cena, mas não o seu desfecho... Um repertório linguístico que não impõe grandes obstáculos ao leitor incipiente.
Recentemente ouvi uma discussão sobre o que propor aos jovens leitores: a opinião dominante defendia a proposta de textos contemporâneos antes dos textos clássicos, que poderiam ser apresentados após a aquisição de familiaridade com a leitura. Será mesmo? As experiências de leitura mais surpreendentes com meus alunos pequenos e com meu filho foram com clássicos: Homero, poemas de Camões, Dante Alighieri... não foram experiências de leitura sistemática, "para aprender", mas para "gostar", para suscitar a curiosidade.
"Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena". Faço minhas as palavras do poeta.
E deixo aos leitores essa proposta: para as festas, deem espaço aos clássicos. Eles são clássicos porque continuam a dizer algo, porque não perdem atualidade, porque são modernos há séculos. E certamente têm algo a dizer sobre o futuro próximo.
Há muitas respostas para explicar o fenômeno e há dezenas de autores que se debruçaram sobre o tema. Continua encantando porque é um clássico, porque é universal. Então é preciso entender o que é um clássico, o que significa ser um texto universal. Resumindo em palavras muito simples, digamos simplórias por sua extrema síntese: "As mil e uma noites" continua encantando porque possui aqueles elementos que magnetizam a atenção do leitor e que continuam a magnetizar geração após geração. O clássico está além das escolas, dos períodos históricos e... além da idade.
Estou relendo com meu filho "As mil e uma noites", em versão traduzida, mas não adaptada para a infância. Estou comprovando na prática o que já teorizo há muito tempo (sobre a leitura): que não há texto certo para uma faixa etária, mas que há faixas etárias para o bom texto. Um bom texto pode ser apreciado em maior ou menor grau por diferentes categorias de leitores e, contrariando algumas correntes didáticas, defendo a apresentação de clássicos (de Camões a Shakespeare, de Fernando Pessoa a Guimarães Rosa) desde a mais tenra idade. O importante é escolher o texto certo. Há um Camões que não pode ser apreciado aos dez anos de idade, mas há um Camões lírico que já confirmei na prática (bem antes dos anúncios publicitários que o popularizaram na tv brasileira) cair nas graças do sentimento da primeira puberdade. Há um Fernando Pessoa que exige profundidade e maturidade, que nem sempre atingimos aos trinta anos, e há um Fernando Pessoa que toca a sensibilidade pueril.
Há uma Xerazade que acompanha os primeiros bocejos da noite que se aproxima e que já se transformou em companhia indispensável antes da despedida cotidiana: "boa noite, mamãe!"
O que essa Xerazade tem de especial e que conquista a curiosidade do meu pequeno ouvinte? Suspense: há sempre algo que continua no dia seguinte. Personagens do cotidiano: o comerciante, o pescador, o rei, o pastor, o pai, o filho, cada um com o seu papel definido (coisa rara na nossa época de fragmentação, incertezas e precariedade). Fórmulas: as fórmulas pronunciadas por gênios, por mulheres com o dom do feitiço, fórmulas que são repetidas como uma espécie de mantra e que permitem ao leitor antecipar a próxima cena, mas não o seu desfecho... Um repertório linguístico que não impõe grandes obstáculos ao leitor incipiente.
Recentemente ouvi uma discussão sobre o que propor aos jovens leitores: a opinião dominante defendia a proposta de textos contemporâneos antes dos textos clássicos, que poderiam ser apresentados após a aquisição de familiaridade com a leitura. Será mesmo? As experiências de leitura mais surpreendentes com meus alunos pequenos e com meu filho foram com clássicos: Homero, poemas de Camões, Dante Alighieri... não foram experiências de leitura sistemática, "para aprender", mas para "gostar", para suscitar a curiosidade.
"Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena". Faço minhas as palavras do poeta.
E deixo aos leitores essa proposta: para as festas, deem espaço aos clássicos. Eles são clássicos porque continuam a dizer algo, porque não perdem atualidade, porque são modernos há séculos. E certamente têm algo a dizer sobre o futuro próximo.
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