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MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDA-SE A LINGUAGEM

A língua, como no soneto atribuído a Camões, muda de acordo com o tempo e com a vontade de mudança das nossas sociedades. Para dar uma ideia de como a língua é dinâmica, basta pensar que em um ano mais de 800 palavras foram incluídas no nosso idioma. Também li que em italiano, nos últimos dez anos, cerca de 7500 novas palavras foram introduzidas no dicionário mais popular do país, o Zingarelli. Mas como a língua muda?
A língua, como a sociedade, transforma-se de modo desigual, pois não podemos afirmar que tudo em uma sociedade possui a mesma prioridade: seria uma contradição. Há setores que recebem maior impulso, outros que recebem mais atenção, outros que são mais necessários.
Partindo dos dados referentes à língua italiana, podemos ter uma ideia de como a ampliação do  vocabulário ocorre também em português, já que muitas palavras possuem um uso global. Os setores que mais produzem neologismos são a informática e a medicina. Até aqui, nenhuma surpresa, em duas áreas de ponta, continuamente em busca de soluções para facilitar e melhorar a nossa qualidade de vida.
A cultura e as artes também têm um papel de destaque: pelo tipo de palavra introduzido em italiano (muitos tecnicismos acadêmicos), percebe-se que se os recursos faltam, a reflexão abunda. Essa área é seguida de perto pelos neologismos de Economia e Biologia, pelos de Filosofia e História, pelos de Direito e Linguística. Esses dois últimos setores geraram cerca de 100 neologismos cada um, enquanto as áreas que mais produzem neologismos criaram cerca de 500 palavras novas.
A área que menos se transforma é a política: na língua italiana foram anotadas apenas 17 novas palavras. Será que isso corresponde à evidente dificuldade de renovação da política, à repetição de velhas fórmulas, a uma estagnação da capacidade de inovar formas de participação e de solução dos problemas da sociedade?
Se o questionamento em relação à política pode ter muitas respostas e suscitar muitas interpretações, em relação à língua também podemos dizer muitas coisas, mas uma é certa: a língua é um instrumento extremamente sensível. É o termômetro da nossa relação com o mundo. Observar a língua que se transforma é útil para perceber que nada é imutável e insolúvel; não estamos parados. Mudar o nosso vocabulário e o nosso contexto depende de nós, das nossas convicções e ações. Podemos criar um vocabulário instigante e motivador, ou um vocabulário pessimista e retraído. O que fazemos transforma a nossa comunicação e a nossa comunicação influencia o que fazemos. Dizer e fazer são verbos interdependentes, um não vive sem o outro. O nosso mundo se plasma nas nossas palavras. Portanto, é importante estar atento ao que dizemos, pois nessa interdependência o que dizemos também plasma o que acontece.

Comentários

  1. Leitura prazerosa e intelectualmente estimulante. Atualizei meu post mais recente ("O patriarca da Odebrecht") publicando o link deste artigo. Parabéns.

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  2. Cara Claudia, seria útil indicar aqui nos comentários o link do seu artigo. Desse modo, quem ler o seu comentário poederá ler o seu texto também. Obrigada pela leitura, um abraço.

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  3. http://www.clarezaecoerencia.com.br/2017/05/o-patriarca-da-odebrecht-certo-ou-errado/

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