Nem só escrevendo, e errando, a gente aprende a escrever. Em uma época de inflação de material escrito à disposição, dissecar textos também é um modo eficaz para entender e aprender como um texto é estruturado.
Esses tempos um amigo pediu uma ajuda nesse sentido: tinha um grande número de informações para sintetizar em um texto curto e que conservasse os dados principais, que ele elencou em quatro pontos.
Sim, esse é um bom começo: identificar os pontos mais relevantes.
Com esses dados em mãos, o meu trabalho foi realmente muito simples de executar.
Em primeiro lugar, eliminei as perífrases. Toda dissertação contém perífrases, expressões que especificam ou ampliam uma afirmação que geralmente é apresentada de forma sintética na introdução.
Feito isso, passei às frases. Uma frase longa, muitas vezes estruturada por meio de período subordinado, pode ser desmembrada e eventualmente uma das suas partes pode ser eliminada. Exemplo: "Os nossos produtos, produzidos com a tecnologia mais avançada no mercado, obtiveram os mais importantes prêmios internacionais". Nessa frase, explicar que os produtos foram premiados é um elemento que serve para convencer o leitor da qualidade, enquanto a informação de que usa a tecnologia mais avançada é um diferencial. Para dissecar a frase, é preciso definir o interlocutor: se estou escrevendo para o consumidor leigo, o melhor é enfatizar os prêmios recebidos, por darem a ideia de garantia de qualidade; se o interlocutor é o revendedor, as duas informações são importantes, mas dependendo do setor (se se trata de B2B, por exemplo), pode ser mais convincente dizer ao leitor que os produtos são tecnologicamente diferenciados (porque a novidade é um motor de vendas).
Além disso, na hora de sintetizar um texto, é preciso fazer cortes sem medo. É preciso ter uma atitude impiedosa em relação à sacralidade que costumamos reservar à palavra escrita. Isso vai além do conhecimento das regras de organização do texto e das frases. Vem com a maturidade, com a mão firme que exprime um pensamento determinado. Mas ler bastante e fazer muito exercício de dissecação favorece o amadurecimento.
Entendido como o texto se estrutura e como pode ser dissecado, de certo modo aprendemos como se monta o texto. É como brincar com Lego, só que os tijolinhos são formados por palavras.
Pode parecer bobagem, mas de certo modo isso já é feito de modo lúdico: há alguns anos, durante uma visita a Milão, vi uma área do Museu de Ciências e Tecnologia dedicada justamente à língua, em que os visitantes podiam formar infinitos textos a partir de certas estruturas prontas. Uma diversão!
Quer dizer, dependendo de como se aborda, trabalhar com textos pode ser sempre útil e agradável.
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