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HÃ?

Vários jornais divulgaram a notícia da descoberta de uma palavra universal.

Hã?

Segundo os pesquisadores holandeses que fizeram o estudo, em todos os idiomas, a "palavra universal" possui semelhança fonética: hã, eh, huh, a, etc. Mas não é minha intenção aqui fazer a transliteração fonética, porque não é esse o ponto que me interessa.

O que me deixou curiosa foi a pouca atenção dada pelo jornalismo divulgativo à questão pragmática que predomina no uso do termo "hã". Será que os linguistas colocaram isso em segundo plano? O fato é que "hã" é uma interjeição que indica sempre uma situação bem específica: a do interlocutor que lança o sinal de não ter entendido o que lhe foi dito. Mais: "hã" tem origem onomatopaica, como indicam alguns dicionários. Interessante, porque onomatopeia é uma expressão que imita sons da natureza ou o timbro da voz humana.
A Wikipedia fornece uma lista de termos desse tipo, para quem tiver curiosidade:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Onomatopeia

Será que descobriram uma palavra universal ou redescobrimos a onomatopeia? Eu fico com a segunda opção, e vou além: "hã" é tão sucinto, tão desprovido daquela arbitrariedade que caracteriza as convenções de cada língua, está tão ligado à expressão de surpresa, que só pode entrar na língua pela porta da frente se levarmos em consideração a função pragmática que exerce.

É isso. Posso estar sendo muito superficial, mas achei essa notícia do "hã" como palavra universal um bom exemplo de retórica científica. É como se um matemático apresentasse o algoritmo para inventar de novo a roda.

Atualmente, a linguistica está fazendo pesquisas muito importantes: sobre os efeitos do bilinguismo na qualidade de vida das pessoas, sobre a origem da linguagem no cérebro, sobre decodificação de sinais em sons e de sons em palavras através de máquinas. Mas a história do "hã" é supérflua, convenhamos.



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