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LEMBREI: SOU PROFESSORA

Há um ano trabalho oficialmente como tradutora. A tradução não é uma atividade nova na minha vida profissional, mas até o ano passado era o meu segundo trabalho, embora fosse o mais importante economicamente.
Isso é só para explicar o que todo mundo sabe: que professor ganha muito mal.

Professores bem remunerados são tão raros quanto os pandas da China, quanto os tigres de Bengala, quanto os ursos pardos da Europa. Tradutores bem remunerados também são raros. Como disse, o trabalho de tradutor era o meu segundo emprego, e em geral é assim para os grandes e para os desconhecidos tradutores, que levam adiante o seu trabalho por amor à literatura e à ciência, por amor à difusão do conhecimento. A diferença é que tradutores de profissão são poucos e, em geral, quando alcançam essa condição sabem que estão entrando em um círculo privilegiado; professores de profissão precisam ser muitos e sabem que estão condenados a uma vida de sacrifícios em troca da nobre missão.

Os professores têm razão quando protestam e reclamam, mas entra governo e sai governo, o máximo que se obtém é alguma migalha salarial. Faz-se muito pouco pela qualidade do ensino porque diante do problema da educação os pais precisam de resultados imediatos, não podem esperar uma década e arriscar a formação dos filhos: entre uma longa batalha e a escola particular, é mais certo o esforço da mensalidade. Raramente pais e filhos manifestam diante dos palácios exigindo escola pública de qualidade, parece que tudo é função da escola e dos trabalhadores do ensino.

No meio tempo, sob o silêncio submisso, perde-se a massa necessária para dar um salto de qualidade geracional. Estamos assistindo à destruição das bases de uma geração inteira que sem uma formação de qualidade estará condenada ao subemprego e ao desemprego, porque inadequada aos níveis de conhecimentos exigidos para administrar o existente e criar inovação. Isso é feito com salários péssimos para quem tem a função de educar e instruir, com a impossibilidade de fazer atualização pedagógica, com a conivência de quem acha que ao povo basta dar pão e que para manter os privilégios seculares, agora que a classe baixa quer carro e praia, o jeito é tornar economicamente inviável o acesso ao trabalho e ao consumo - inclusive o consumo da cultura (alguém dirá que agora tem a bolsa cinema... eu sei, como os pandas têm reservas, mas não liberdade sem risco de extinção).

Eu faço aquela pergunta impertinente e pueril de quem não perdeu a esperança: quando o governo vai ver que investir de modo intensivo na formação é necessário para não eliminar nessa guerra invisível as possibilidades de um futuro para os jovens? Quando vai apostar no crescimento do país, quer dizer, do seu povo? Quando vai acreditar que um povo que cresce quer trabalho, gera renda, riqueza e impostos? Quando vai parar de fazer políticas econômicas para arrecadar fundos (e votos) agora e ontem mesmo? Quando vai decidir parar de apagar incêndio de colherinha, dando bolsinha aqui, bolsinha ali? Quando dará a todos a oportunidade de disputar em condições de igualdade? Quando elevará o nível de competição entre os jovens para um desafio entre níveis de conhecimento e não de níveis sociais?

Eu faço essas perguntas de professorinha porque lembrei que ser professora não deixou de ser parte da minha história profissional. Eu continuo aqui, no espaço virtual, como antes estava na sala de aula. Continuo dialogando com os alunos e comunicando com quem queira tirar proveito dessas pequenas aulas expositivas.

É, ser professor é para sempre.

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