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ABECEDÁRIO PROVISÓRIO SOBRE A LÍNGUA SEGUNDO OS SEUS MESTRES

Se a língua é feminina, esses senhores não se furtaram ao seu encanto.

Amor - "Não há língua que d'amor não cante" (José Albano)

Beleza - "Grande Língua! Essa do Pedro. Essa do Zé. Pois é. E mais não digo e beleza!" (Pedro Américo de Farias)

Carecimentos - "A língua deste gentio toda pela Costa é, uma carece de três letras – scilicet, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente." (Pero de Magalhães Gândavo)

Dialeto - "O dialeto que se usa à margem esquerda da frase, eis a fala que me lusa, eu, meio, eu dentro, eu, quase."  (Paulo Leminski)

Enigma - "Como podia ser que entendessem o enigma da terra, se não tinham as notícias nem a língua dela?" (Padre Antônio Vieira)

Ferro - "Reparou nas flores de ferro dos quatro jarros das esquinas? Pois aquilo é ferro forjado. Flores criadas numa outra língua." (João Cabral de Melo Neto)

Galimatias - "Peço aos ilustres puritanos que, à força de sublimado quinhentista, têm conseguido levar a língua à decrepitude para curar de suas enfermidades francesas, peço-lhes que me perdoem o galimatias, porque ele é muito mais português que outra coisa." (Almeida Garrett)

Hiatos - "Isto que se fala aqui não é língua, não é nada: é um vazadouro de imundícies. Se Frei Luís de Sousa ressuscitasse, não reconheceria a sua bela língua nesse amálgama, nessa mistura diabólica de galicismos, africanismos, indianismos, anglicismos, cacofonias, cacotecnias, hiatos, colisões... Um inferno!" (Lima Barreto)

Impotência - "A língua humana há de ser sempre impotente para exprimir certos afetos da alma." (Machado de Assis)

Janela - "Quando eu tinha treze, catorze, quinze anos e lia todos os livros que me vinham à mão, os livros dos meus pais, os livros que roubava e os livros que podia comprar, voltava não sei porquê, como a língua procura sem descanso o dente que lhe falta, a esses versos franceses que copiara num caderno: há sempre no fundo do sofrimento uma janela aberta uma janela iluminada." (António Lobo Antunes)

Lógica - "A música da língua deve expressar o que a lógica da língua obriga a crer." (João Guimarães Rosa)

Mar - "Penetraram tudo o que o Mar Oceano cerca e consigo levaram sua língua." (Duarte Nunes de Leão)

Netos - "Será ridículo que nossos netos falem e escrevam exatamente como falaram e escreveram nossos avós; também seria ridículo que o nosso estilo de hoje fosse a reprodução fiel do estilo dos quinhentistas." (Olavo Bilac)

Ouvidos - "Enriqueça-se a língua portuguesa com prudente licença e boa escolha; porém nunca vocábulos nos digas que arranham os bichinhos dos ouvidos." (Basílio da Gama)

Penúria - "Em uma língua aonde há penúria de palavras ou de construções bem azadas, há os mesmos obstáculos em que a geometria topava antes do invento da álgebra." (António Feliciano de Castilho)

Querer - "Língua de Brancos, Negros e ainda outros, que bom haver quem como nós te queira!" (Ribeiro Couto)

Raízes - "Culpa gente peregrina a nossa língua, e não chega a ver que é a que crimina, nas dicções quase latina, e na frase quase grega." (Manuel do Couto Guerreiro)

Soldados - "Não morrerá sem poetas nem soldados a língua em que cantaste rudemente as armas e os barões assinalados." (Manuel Bandeira)

Traição - "Quando chegarmos a Moçambique, você será o língua dos portugueses. Isso é verdade? [...] Não sei se faria uma traição dessas. Você sabe para que é que vai ser usada essa língua?" (Mia Couto)

Última - "Cecília, habituada à linguagem poética do selvagem, esperava a última palavra que devia fazê-la compreender o seu pensamento. O índio continuou: — Peri não leva a sua alma no corpo, deixa-a nesta flor. Tu não ficas só." (José de Alencar)

Vil - "Com sua língua ao nobre o vil decepa." (Gregório de Matos Guerra)

Xingação - "Eles erram sempre de maneira tão complicada que eu não atino como ainda não descobriram que seria muito mais fácil escreverem certo." (Mário Quintana)

Zum-zum - "Nossa bela língua, bem como a inglesa, espanhola e italiana, não precisa, absolutamente falando, do zum-zum das consoantes para fixar a atenção e deleitar o ouvido." (José Bonifácio)

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