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POESIA PARA QUÊ?

Hoje a poesia está para a língua como a arte abstrata está para a pintura. Para catalogá-la, já não bastam os elementos formais como rima, métrica, musicalidade, figuras de linguagem. O prosaico urbano invadiu o espaço poético, como outrora invadira o cotidiano (suponho) o bucolismo, mas a fúria prosaica não respeita os cânones líricos do passado. A anti-lírica e a falta de lirismo são o reverso da medalha e querem o seu espaço de negação lírica legitimado.
Os poetweets e os aforismos poéticos desafiam a síntese.
Romances em versos (recentemente passei os olhos por um, escrito por um jovem escritor italiano) apostam suas fichas em provocações nostálgicas.
A música popular há muito tempo virou objeto de considerações acadêmicas, ganhando também a sua pequena glória literária.
Vão-se os tempos em que os mais tradicionalistas contestavam a presença de Paulinho da Viola no júri de um prêmio literário. E Chico Buarque já ganhou todos os prêmios do nosso panteão.
E apesar de toda a confusão, a poesia continua sendo essencial. Aliás, no Brasil os poetas fermentam e a poesia está longe de ser um gênero decadente (pelo menos do ponto de vista do prestígio). A poesia está por todos os lados: dentro dos ônibus, pichada nos muros das cidades, é a festa caótica da nossa expressividade.
Alimento a convicção de que a poesia é um excelente antídoto para a homologação da linguagem que a técnica e a burocracia elevaram à máxima potência em nossos dias. Talvez por isso, independentemente do sucesso, há sempre um jovem rebelde ou na fossa que se deixa levar por um doce delírio lírico para combater os problemas do mundo atual. A maioria não chegará a transformar o impulso pessoal em resultado estético, mas o suco dessa mistura de vozes será certamente útil para manter vivo o interesse pelo gênero, para sustentar os poetas que deixarão um legado para o futuro.
Viva a poesia!

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