Por que o português tem tantas regras? É a pergunta que ouço frequentemente dos meus alunos. Resposta: porque é uma língua muito formalizada. E por que tem tantas exceções? É a segunda pergunta que mais ouço. Resposta: porque é uma língua imersa na história.
A presença de regras e de exceções às regras é algo típico da nossa língua. Porém, há mais a ser dito: o português é uma língua estruturada para pessoas insipientes/incipientes. Quer dizer, possui regras de morfologia e ortografia estruturadas para pessoas com pouca cultura, por isso acessível também aos principiantes.
É justamente o alto grau de formalização da gramática que determina a luta com a natureza da língua. De um lado, os instrumentos gramaticais orientam e controlam a escrita; de outro, a evolução natural da língua (intimamente ligada às histórias pessoais, aos eventos históricos e aos fenômenos sociais) viola as regras que tentam conter os processos de transformação. Isso, porém, é inevitável, pois a história humana não é circular, como defendem alguns, mas um rio em que se banha somente uma vez, para repetir a lição dos clássicos. Há analogias que ensejam a comparação e facilitam a análise dos fenômenos, mas a "era da inovação" está aí para desafiar e propor cotidianamente novos termos para novas realidades que a sociedade humana cria.
Uma língua para principiantes
Quando as primeiras gramáticas da língua portuguesa vieram a público, o português era uma língua principalmente falada, escrita sobretudo por uma elite letrada. Mais que isso, o padrão de língua adotado foi inspirado nos textos reconhecidamente aceitos pelos círculos mais cultos da sociedade. A gramática aproximava-se de maneira prevalecente da língua utilizada na escrita da literatura, das ciências e do direito. Era uma gramática das formas aceitas como nobres no idioma. Era também uma gramática com uma lógica clara, de modo que as formas mais elegantes da língua fossem também compreensíveis, razoáveis, coerentes e, portanto, acessíveis ao leitor, ainda que este não fosse também um escritor ou autor.
Só gradualmente houve democratização da alfabetização e do ensino da escrita (grosso modo, podemos situar os primórdios da massificação da alfabetização não antes do final do século XIX - e aí se vão vários séculos de padronização da língua à revelia do seu uso na fala). Considerados esses aspectos, fica mais claro por que as regras da língua portuguesa, especialmente as de morfologia e ortografia, foram pensadas para para orientar a leitura, que pode ser considerada uma ação "passiva", se pensarmos na escrita como uma ação "ativa" em língua. Ao aprendermos as regras da escrita, devemos encontrar razoável facilidade para ler qualquer palavra. Mas isso não significa que estamos preparados para escrever em português: a escrita implica exercício, continuidade, busca de estilo, conhecimento de registros. Um trabalho que é feito paulatinamente pela escola, mas que deve continuar ao longo da trajetória pessoal e profissional dos falantes. Aprimorar a escrita e o estilo é um trabalho teoricamente infinito, porque é contínua a evolução da língua.
É assim: em maior ou menor grau, todos somos principiantes na língua. Todos os falantes nativos têm uma língua própria que só em parte é compartilhada e aceita socialmente. É constante a busca de meios para atingir a expressão ideal. É uma busca sem fim.
Isso é bom? É, sim. Isso indica que a língua está ativa entre os falantes, indica que há sempre muito a aprender, independentemente do grau de conhecimento que tenhamos. E indica que os professores estão entre os poucos profissionais que não temem a falta de trabalho. Ou será que não é bem assim?
A presença de regras e de exceções às regras é algo típico da nossa língua. Porém, há mais a ser dito: o português é uma língua estruturada para pessoas insipientes/incipientes. Quer dizer, possui regras de morfologia e ortografia estruturadas para pessoas com pouca cultura, por isso acessível também aos principiantes.
É justamente o alto grau de formalização da gramática que determina a luta com a natureza da língua. De um lado, os instrumentos gramaticais orientam e controlam a escrita; de outro, a evolução natural da língua (intimamente ligada às histórias pessoais, aos eventos históricos e aos fenômenos sociais) viola as regras que tentam conter os processos de transformação. Isso, porém, é inevitável, pois a história humana não é circular, como defendem alguns, mas um rio em que se banha somente uma vez, para repetir a lição dos clássicos. Há analogias que ensejam a comparação e facilitam a análise dos fenômenos, mas a "era da inovação" está aí para desafiar e propor cotidianamente novos termos para novas realidades que a sociedade humana cria.
Uma língua para principiantes
Quando as primeiras gramáticas da língua portuguesa vieram a público, o português era uma língua principalmente falada, escrita sobretudo por uma elite letrada. Mais que isso, o padrão de língua adotado foi inspirado nos textos reconhecidamente aceitos pelos círculos mais cultos da sociedade. A gramática aproximava-se de maneira prevalecente da língua utilizada na escrita da literatura, das ciências e do direito. Era uma gramática das formas aceitas como nobres no idioma. Era também uma gramática com uma lógica clara, de modo que as formas mais elegantes da língua fossem também compreensíveis, razoáveis, coerentes e, portanto, acessíveis ao leitor, ainda que este não fosse também um escritor ou autor.
Só gradualmente houve democratização da alfabetização e do ensino da escrita (grosso modo, podemos situar os primórdios da massificação da alfabetização não antes do final do século XIX - e aí se vão vários séculos de padronização da língua à revelia do seu uso na fala). Considerados esses aspectos, fica mais claro por que as regras da língua portuguesa, especialmente as de morfologia e ortografia, foram pensadas para para orientar a leitura, que pode ser considerada uma ação "passiva", se pensarmos na escrita como uma ação "ativa" em língua. Ao aprendermos as regras da escrita, devemos encontrar razoável facilidade para ler qualquer palavra. Mas isso não significa que estamos preparados para escrever em português: a escrita implica exercício, continuidade, busca de estilo, conhecimento de registros. Um trabalho que é feito paulatinamente pela escola, mas que deve continuar ao longo da trajetória pessoal e profissional dos falantes. Aprimorar a escrita e o estilo é um trabalho teoricamente infinito, porque é contínua a evolução da língua.
É assim: em maior ou menor grau, todos somos principiantes na língua. Todos os falantes nativos têm uma língua própria que só em parte é compartilhada e aceita socialmente. É constante a busca de meios para atingir a expressão ideal. É uma busca sem fim.
Isso é bom? É, sim. Isso indica que a língua está ativa entre os falantes, indica que há sempre muito a aprender, independentemente do grau de conhecimento que tenhamos. E indica que os professores estão entre os poucos profissionais que não temem a falta de trabalho. Ou será que não é bem assim?
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