Pular para o conteúdo principal

SALVE O DIA DO MAU HUMOR

Procurando, é possível encontrar motivo para festejar tudo, até o mau humor. No Brasil, a festa é dia 13 de novembro, mas desconfio que seja uma brincadeira para ironizar o Dia Internacional da Gentileza, promovido por um comitê internacional e festejado desde 1996.
Por que a premissa? Porque mau humor não tem dia. Esbarra no nosso cotidiano, atrapalha a vida da gente e atrapalha a comunicação. Muitos problemas entre os falantes estão ali, naquela presença ou ausência de boa vontade em ouvir ativamente o que o outro fala e em fazer um esforço para exprimir-se com clareza.

Mas já que resolvi tirar fora a minha porçãozinha de mau humor, deixo algumas pérolas com comentários para o deleite dos perfeccionistas de plantão.

São pequenos vícios que ferem os ouvidos, especialmente quando emergem de um falante competente. Como sempre, é preciso fazer ressalvas: todo mundo erra, é humano. O problema é quando profissionais da área persistem no erro.

"Atiradores atacam templo nos EUA e metralham cerca de sete pessoas"
"Cerca de 7,7 milhões de brasileiros usarão urna biométrica"
"Operação contou com cerca de 18 mil policiais"
"Nos seis primeiros meses de 2012, foram gastos R$ 11,8 bilhões por meio de 12.159 certames licitatórios. Do total das aquisições públicas, cerca de R$ 5,7 bilhões foram utilizados para a compra de materiais e R$ 6,1 bilhões para a contratação de serviços. A maior parte desses processos de licitação, cerca de 93%, foi efetivada por meio do pregão eletrônico"

Sugiro ainda esta (deliciosamente) mal-humorada crônica sobre os erros em relação a "cerca de" nos jornais portugueses: http://www.ciberduvidas.com/pelourinho.php?rid=2450

Agora os comentários com doce mau humor: "Cerca de sete pessoas" não dá! Faltou um pouco de pesquisa sobre o número exato de vítimas (a-b-c do bom jornalismo) ou o jornalista pecou por insegurança.
"Cerca de 7,7 milhões": se o jornalista tem até as vírgulas da cifra, mas não quer dizer que aquele é o número exato, pode recorrer ao verbo. "Estima-se que": na minha opinião o estilo sai ganhando.
"Cerca de 18 mil policiais": essa correu o mundo. Refere-se ao número de policiais empregado nos jogos de Londres. Aqui eu também optaria por uma solução de estilo: "Mais de 18 mil policiais" ou "Quase 18 mil policiais", depois de verificar a notícia na fonte, claro. Ou não é claro? Será que há jornalistas fazendo coberturas com "copia e cola"?
O último exemplo é o que mais deixa a desejar, tendo sido extraído de uma prestação de contas publicada por uma instituição. Se o rigor nas contas não é o máximo, pelo menos a linguagem não deveria dar margem a questionamentos.

Enfim, a regra de base: use a expressão "cerca de" com números redondos. Assim você não corre o risco de ser alvo do mau humor alheio.

Comentários

Postagens mais populares

A GUERRA SANTA DA LETRA CURSIVA