Os melhores livros da minha vida não foram fáceis de engolir. Eu sempre digo para meus alunos que devo ter começado pelo menos umas dez vezes a leitura de Grande Sertão: Veredas antes de conseguir entender o que estava acontecendo naquela história. Quando o texto me pegou, não me largou mais.
É uma sensação que experimentei várias vezes: lendo tragédias, lendo romances, lendo contos, lendo poemas e até lendo as melhores comédias. Lendo textos velhos e novos.
Essa coisa que me agarra a um livro é a terrível sensação de que se eu fechasse as suas páginas, aquilo poderia acontecer comigo, como se fosse uma maldição. Então, com os olhos esbugalhados vou adiante para descobrir até onde vai a personagem, que fim irá levar, no meu lugar. Ponto final: e aquela sensação de ter ficado a salvo mais uma vez.
Refiro-me à catarse.
Só a catarse nos une, os livros a mim.
A catarse, como estou descrevendo aqui, é um conceito bastante eclético, diria um Aristóteles. Contudo, creio que ele também teria atualizado a sua Poética para descrever o que se passa com o leitor durante o seu contato com a obra. Talvez hoje pudéssemos falar de sensação de arroubo como um elemento análogo à catarse.
Há muitos livros que suscitam essas emoções? Há. Por isso, não preciso ficar preocupada em elaborar uma lista de sugestões de leitura para as férias. O conselho aqui é outro: fuja dos escritores com fórmula fácil, dos que dizem que vão dar a solução para seus problemas, dos que trocam a aridez da linguagem pelo linguajar das massas, fazendo gracinhas mais apropriadas para anônimos em busca da fama. Escritor que quer agradar o leitor é suspeito.
A literatura é a arte de colher flores no deserto. O escritor garimpa entre as pedras as melhores espécies e o leitor recebe o buquê como se tomasse nas mãos um tesouro raro e pronto a esvair-se diante de seus olhos.
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