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A CORTE DOS BOBOS


No início ele era apenas o bobo da corte. Sofrera toda sorte de enxovalhos e torturas físicas que melhor exaltassem seu aspecto grosseiro para obter o privilégio da sátira, do humor, da comédia requintada, simplória ou grotesca. Outros no seu lugar arriscariam a pele ao ridicularizar a corte, mas não o bobo. Que era bobo, mas não burro.
Tenho a convicção de que a língua premia as melhores palavras, as que possuem riqueza fonética e semântica tais que podem desencadear o processo de derivação e deslocamento que confirma e amplia o léxico da língua ao longo do tempo. Hoje não é apenas o dia dos bobos, é um dia bom para pensar em como essa figura ambígua foi capaz de criar uma esfera de sentidos muito ampla, que vai do seu contrário ao exato oposto. Reis subiram e caíram dos seus tronos, mas não foram capazes de imprimir um vocabulário tão interessante quanto o de seus bobos. Nem têm um dia que festeje essa alegria ingênua e inteligente ao mesmo tempo. Os bobos, sim, é que criaram uma corte.
Fica aí um pequeno elenco de palavras ligado ao universo dos bobos: são termos que afundam, alguns mais, outros menos, suas raízes na história, são atualíssimos e muito usuais. Não dá para falar português sem saber que os derivados de bobo podem ter valor positivo ou negativo, de acordo com o contexto, remetendo à função ambivalente que os bobos da corte tiveram na história.
Bobalhão – bobalhona – bobão – bobinho – abobado – abobalhado – bobice – bobeira – boboca – bobagem – bobajada – abobalhar – bobear.

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