Entre as muitas polêmicas que animaram (e estão incendiando) os apaixonados pela língua portuguesa, saltam- me aos olhos os debates sobre o “livro errado” e o projeto de proteção do português contra os excessivos anglicismos que o ameaçam.
Um pouco do silêncio dos últimos dias deve-se à minha participação nos debates em outros grupos virtuais com não menor paixão que os meus pares. Eis-me de volta para levantar outra questãozinha que muito me atrai: a mestiçagem da nossa língua. Haverá quem me corrija, dizendo que estou entrando no campo de discussão sobre as línguas crioulas, mas não é de crioulo que quero falar, aliás: não gosto da expressão língua crioula, é uma antipatia pessoal, acho que o termo “crioulo” é um pouco discriminatório, por mais que hoje tenha adquirido respeito e valor.
Só para fazer a premissa, visto que mencionei o “crioulo” (crioulo – mistura de latim e árabe?): uma língua é crioula em relação a outra, chamada lexificadora. A língua lexificadora é a que se impõe sobre a língua minoritária, adaptando os termos da língua englobada segundo as regras da língua hegemônica.
O papo tem relação com isso, mas não é bem isso: é mais um caso de mestiçagem linguística. É que em português (e não só em português, naturalmente), temos o hábito de introduzir no nosso falar termos e expressões alheias, que adotamos como nossas. A gente liga um “abajur”, a gente passa por um “blecaute”, a gente toma um “chá” e assim vai se apropriando, sem perceber que está abraçando o mundo. Muito democrático, muito louvável. Falta apenas um pouco mais de consciência do que fazemos a toda hora e tirar proveito dessa mistura (mistura - herança da nossa mãe latina).
Diante desse hábito que tanto enriquece o nosso idioma, fico espantada quando alguém diz temer a ameaça das línguas estrangeiras. Nós mal falamos inglês! Pelo contrário, com tamanha apropriação, seria hora de começar a aprender um pouco de inglês ao contrário, tomando consciência de como e do que aportuguesamos, para entender que são necessários poucos passos para dominar um outro idioma.
Obrigada ao Prof. Castorina que me ensinou esta lição: é preciso ter intimidade com a língua nativa para aprender uma língua estrangeira.
Enquanto o português estiver ameaçado pelos próprios falantes nativos, podemos ficar tranquilos: o inglês não representará perigo.
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