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COISIFICAÇÃO, CONSEQUÊNCIAS SEMÂNTICAS

Estava lendo Darcy Ribeiro quando me deparei com um termo que o autor certamente não usou por acaso: ao comentar o processo de escravidão, ele falou de importação de escravos. Algumas linhas adiante, voltou a repetir que os escravos eram importados.
O termo "importação" doeu na carne.


Estou convicta de que Darcy Ribeiro usou o termo para causar mal-estar, para evidenciar a coisificação de seres humanos durante o regime escravocrata. Um regime que durou trezentos anos.

Mas o cotidiano nos reserva outros termos que surpreendem e sobre os quais nem sempre nos questionamos. Expressões como "recursos humanos" ou "capital humano" evidenciam o valor econômico ligado às pessoas inseridas no processo de produção. As pessoas possuem qualidades, ou qualificações, visto que as expressões mencionadas são empregadas na esfera profissional. Serem tratadas como "recurso" ou como "capital" revelam uma perspectiva sobre a sua condição, não é?

Também não é indiferente usar termos como "imigração forçada" em lugar de "fuga", "deportação" ou "exílio". A indeterminação cria ambiguidades e a imigração fica sujeita a interpretações diferentes e até mesmo divergentes.

O "imigrante econômico" é essencialmente diferente de qualquer outro trabalhador que busca um emprego no qual seja menos explorado? O que o caracteriza esse fenômeno é realmente a imigração?

A "deslocalização" de empresas é um eufemismo para ocultar o rastro de desemprego que o fechamento das empresas causa ao buscarem aumentar os lucros e reduzir despesas com o pessoal?

Quando usamos esses termos, o que estamos colocando no centro da nossa sociedade: o mercado ou as pessoas?

Sim, é uma pergunta retórica. Os leitores sabem bem qual é a resposta.


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