Ah, a berinjela, ou beringela, como quiserem. Quem não passou pela penitência escolar de ter de demonstrar conhecimentos ortográficos na mais tenra idade, escolhendo entre as letras "G" ou "J"?
Não lembro como completei a palavra quando era criança, mas lembro que não entendia a regra e que o único jeito para solucionar o problema era decorar a forma indicada pela professora.
Suponho que metade da turma acertou o exercício e a outra metade errou a loteria.
Mas a pior notícia é que berinjela está certo. E beringela também está.
Beringela é uma forma mais antiga, que sugere, pelo uso da consoante "G", que a palavra foi plenamente integrada na língua. Os portugueses continuam escrevendo assim até hoje.
Berinjela é de uso corrente no Brasil e indica, por meio da consoante "J", que a palavra é de origem estrangeira. A grafia com "J" ganhou espaço quando se tomou consciência de que a palavra tinha sido introduzida na língua por meio do árabe, no qual se pronuncia "badinjana". E influências árabes é que não nos faltam: não apenas na língua portuguesa, mas também nos hábitos alimentares e na arquitetura.
O acordo ortográfico não solucionou o problema. Para entender o motivo da dupla grafia, convém lembrar que a ortografia do português é determinada por fatores fonológicos e etimológicos. Nesse caso, a escrita com "G" espelha a forma mais antiga, cristalizada e característica para indicar os fonemas de uma palavra percebida como parte do léxico típico da língua. Já a escrita com "J" salienta a percepção da história do vocábulo, a sua origem estrangeira e a sua adaptação às regras da língua portuguesa.
Pessoalmente, prefiro a grafia "berinjela" porque o fator etimológico é significativo. A língua árabe é uma das que deixou mais vestígios e contribuições lexicais para a nossa língua. A arquitetura fonológica é básica para determinar a ortografia, mas usar o fator etimológico, quando isso se justifica, significa dar às palavras o peso histórico que possuem e manter viva a relação explícita com as línguas que fazem empréstimos ao nosso idioma. Adotar esse critério permite que a ortografia explicite de modo codificado a relação do português com outras línguas e isso nós sabemos como ocorre para alguns fonemas, representados pelas consoantes Ç, H, J e X.
Ah, a beringela, ou berinjela, como quiserem. Depois de tantos anos, penso nos meus dilemas estudantis e me pergunto se a minha professora, tão severa nas correções, sabia que a língua às vezes é mais abrangente, complexa e interessante do que se imagina à primeira vista. Será que ela sabia que não há certo ou errado para essa questão? Será que alguma vez a berinjela foi determinante para o ponto que salva o aluno da recuperação ou da reprovação? Espero que não.
Não lembro como completei a palavra quando era criança, mas lembro que não entendia a regra e que o único jeito para solucionar o problema era decorar a forma indicada pela professora.
Suponho que metade da turma acertou o exercício e a outra metade errou a loteria.
Mas a pior notícia é que berinjela está certo. E beringela também está.
Beringela é uma forma mais antiga, que sugere, pelo uso da consoante "G", que a palavra foi plenamente integrada na língua. Os portugueses continuam escrevendo assim até hoje.
Berinjela é de uso corrente no Brasil e indica, por meio da consoante "J", que a palavra é de origem estrangeira. A grafia com "J" ganhou espaço quando se tomou consciência de que a palavra tinha sido introduzida na língua por meio do árabe, no qual se pronuncia "badinjana". E influências árabes é que não nos faltam: não apenas na língua portuguesa, mas também nos hábitos alimentares e na arquitetura.
O acordo ortográfico não solucionou o problema. Para entender o motivo da dupla grafia, convém lembrar que a ortografia do português é determinada por fatores fonológicos e etimológicos. Nesse caso, a escrita com "G" espelha a forma mais antiga, cristalizada e característica para indicar os fonemas de uma palavra percebida como parte do léxico típico da língua. Já a escrita com "J" salienta a percepção da história do vocábulo, a sua origem estrangeira e a sua adaptação às regras da língua portuguesa.
Pessoalmente, prefiro a grafia "berinjela" porque o fator etimológico é significativo. A língua árabe é uma das que deixou mais vestígios e contribuições lexicais para a nossa língua. A arquitetura fonológica é básica para determinar a ortografia, mas usar o fator etimológico, quando isso se justifica, significa dar às palavras o peso histórico que possuem e manter viva a relação explícita com as línguas que fazem empréstimos ao nosso idioma. Adotar esse critério permite que a ortografia explicite de modo codificado a relação do português com outras línguas e isso nós sabemos como ocorre para alguns fonemas, representados pelas consoantes Ç, H, J e X.
Ah, a beringela, ou berinjela, como quiserem. Depois de tantos anos, penso nos meus dilemas estudantis e me pergunto se a minha professora, tão severa nas correções, sabia que a língua às vezes é mais abrangente, complexa e interessante do que se imagina à primeira vista. Será que ela sabia que não há certo ou errado para essa questão? Será que alguma vez a berinjela foi determinante para o ponto que salva o aluno da recuperação ou da reprovação? Espero que não.
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