O Made in Italy nunca para de sofrer.
A Itália é conhecida no mundo pelas iguarias e pelos produtos da indústria alimentar, feitos segundo receitas rigorosas com matérias-primas locais. Quer dizer: são inimitáveis. Mas o mundo copia, e no mundo inteiro encontramos o parmesão, que é não só uma tradução do "parmigiano", mas uma cópia mal feita do queijo original. Muçarela? Sim, em português escrevemos com "ç" para deixar registrado que se trata de um estrangeirismo, mas a verdadeira "mozzarella" tem que ser feita com o leite de búfala de Caserta, de Salerno ou do Sul do Lácio (a chamada "mozzarella pontina").
A última batalha gastronômico-linguística está sendo feita contra o termo Nutella. A Academia Nacional do Irã decretou que o nome deve ser banido do país e traduzido em persa. Mas convém explicar melhor nos detalhes: no Irã, as panquecarias são chamadas de NutellaBar, porque fazem especialmente panquecas recheadas com creme de chocolate e avelã. A Nutella é a marca mais famosa desse tipo de creme, mas não criou franquias no Irã: o termo NutellaBar é de uso local.
Neste caso, não é que a Academia iraniana tem razão? Usar indevidamente o nome de uma marca não é legal. Leva os consumidores a pensarem que estão comendo a verdadeira Nutella, mas talvez possam estar comendo algum outro tipo de creme preparado com cacau e avelã. Cada um tem a sua receita e o seu segredo, não é? A Nutella tem a sua.
Apesar disso, em linha de princípio, essas batalhas promovidas por academias ou parlamentares, que conhecemos bem nos países lusófonos, especialmente a partir da discussão legislativa sobre o Novo Acordo Ortográfico, não são positivas. As línguas evoluem sem pedir licença às autoridades: a melhor atitude dos especialistas seria a de observar, analisar e mediar. Sobretudo mediar, estimulando os usuários a refletirem sobre a língua, promovendo o uso consciente dos recursos do idioma.
A propósito, que tal lembrar que a marca Nutella resulta de uma italianização do termo "nut", noz em inglês? Apesar do nome, alguém pensaria que a Nutella não é italianíssima?
Moral da história: é desnecessário temer os estrangeirismos. Eles fazem parte do processo, são vetores de enriquecimento das línguas. O importante é buscar conhecê-los, pois quanto mais noção temos do panorama linguístico em que as línguas se incluem, mais se afinam as nossas capacidades de decidir por termos locais, transliterados ou traduzidos para exprimir novas experiências e conceitos.
A Itália é conhecida no mundo pelas iguarias e pelos produtos da indústria alimentar, feitos segundo receitas rigorosas com matérias-primas locais. Quer dizer: são inimitáveis. Mas o mundo copia, e no mundo inteiro encontramos o parmesão, que é não só uma tradução do "parmigiano", mas uma cópia mal feita do queijo original. Muçarela? Sim, em português escrevemos com "ç" para deixar registrado que se trata de um estrangeirismo, mas a verdadeira "mozzarella" tem que ser feita com o leite de búfala de Caserta, de Salerno ou do Sul do Lácio (a chamada "mozzarella pontina").
A última batalha gastronômico-linguística está sendo feita contra o termo Nutella. A Academia Nacional do Irã decretou que o nome deve ser banido do país e traduzido em persa. Mas convém explicar melhor nos detalhes: no Irã, as panquecarias são chamadas de NutellaBar, porque fazem especialmente panquecas recheadas com creme de chocolate e avelã. A Nutella é a marca mais famosa desse tipo de creme, mas não criou franquias no Irã: o termo NutellaBar é de uso local.
Neste caso, não é que a Academia iraniana tem razão? Usar indevidamente o nome de uma marca não é legal. Leva os consumidores a pensarem que estão comendo a verdadeira Nutella, mas talvez possam estar comendo algum outro tipo de creme preparado com cacau e avelã. Cada um tem a sua receita e o seu segredo, não é? A Nutella tem a sua.
Apesar disso, em linha de princípio, essas batalhas promovidas por academias ou parlamentares, que conhecemos bem nos países lusófonos, especialmente a partir da discussão legislativa sobre o Novo Acordo Ortográfico, não são positivas. As línguas evoluem sem pedir licença às autoridades: a melhor atitude dos especialistas seria a de observar, analisar e mediar. Sobretudo mediar, estimulando os usuários a refletirem sobre a língua, promovendo o uso consciente dos recursos do idioma.
A propósito, que tal lembrar que a marca Nutella resulta de uma italianização do termo "nut", noz em inglês? Apesar do nome, alguém pensaria que a Nutella não é italianíssima?
Moral da história: é desnecessário temer os estrangeirismos. Eles fazem parte do processo, são vetores de enriquecimento das línguas. O importante é buscar conhecê-los, pois quanto mais noção temos do panorama linguístico em que as línguas se incluem, mais se afinam as nossas capacidades de decidir por termos locais, transliterados ou traduzidos para exprimir novas experiências e conceitos.
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