Se alguém retornasse hoje ao Brasil, após uma ausência de 10 anos, ficaria perplexo e desorientado com os termos que empregamos no cotidiano: coxinha, petralha, isentão... o que é isso? É a vitalidade da língua, sinalizando um momento crítico, significativo na nossa história e na nossa sociedade.
O termo "coxinha" designa um salgadinho típico da nossa culinária, mas hoje se torna metáfora. Talvez possamos dizer que é um cidadão típico, médio, ou médio-alto, e que atualmente se coloca entre os que levantam críticas explícitas ao governo.
A palavra "petralha", salvo engano meu, é um trocadilho com "metralha", personagens da Disney, aqueles ladrões fofos que viviam tentando roubar o Tio Patinhas. Aqui a alusão é referida aos casos de corrupção que estão sendo investigados na Operação Lava Jato. Os "petralhas" são os defensores do governo sob investigação.
"Isentão" é o último neologismo do momento. Diante da polarização entre "coxinhas" e "petralhas", os "isentões" são os que tentam permanecer neutros na discussão. É interessante notar o uso do aumentativo, que em geral sugere um rebaixamento ou um valor negativo para a palavra. A neutralidade, por mais que tente colocar-se de forma positiva para os defensores de ambas as posições, não deixa de ser uma posição. Não se pode agradar a gregos e a troianos: os isentões correm o risco de serem criticados por ambas as partes. O aumentativo sinaliza essa possibilidade.
Em síntese, os três neologismos mencionados usam diferentes processos: a formação da metáfora; a criação do trocadilho; o uso do aumentativo.
Para quem vê neste momento dramático da história brasileira apenas aspectos negativos, marcados por guerra de informação, suspeitas e escândalos, a língua revela que este é também um momento criativo. A língua marca a nossa identidade, como indivíduos e como cidadãos de uma comunidade em um determinado momento histórico. Explicitar conceitos, em vez de omiti-los, negá-los ou dissimulá-los, deixa-nos alguma esperança. A de que desta vez não iremos esperar uns vinte anos para tirar a sujeira de baixo do tapete. Como em todas as crises, é difícil atravessar o processo, mas é somente abrindo e fechando as feridas que poderemos lidar serenamente com as cicatrizes que restarão como marca do passado e como advertência para o futuro. Que esperamos seja melhor. Muito melhor que o nosso presente.
O termo "coxinha" designa um salgadinho típico da nossa culinária, mas hoje se torna metáfora. Talvez possamos dizer que é um cidadão típico, médio, ou médio-alto, e que atualmente se coloca entre os que levantam críticas explícitas ao governo.
A palavra "petralha", salvo engano meu, é um trocadilho com "metralha", personagens da Disney, aqueles ladrões fofos que viviam tentando roubar o Tio Patinhas. Aqui a alusão é referida aos casos de corrupção que estão sendo investigados na Operação Lava Jato. Os "petralhas" são os defensores do governo sob investigação.
"Isentão" é o último neologismo do momento. Diante da polarização entre "coxinhas" e "petralhas", os "isentões" são os que tentam permanecer neutros na discussão. É interessante notar o uso do aumentativo, que em geral sugere um rebaixamento ou um valor negativo para a palavra. A neutralidade, por mais que tente colocar-se de forma positiva para os defensores de ambas as posições, não deixa de ser uma posição. Não se pode agradar a gregos e a troianos: os isentões correm o risco de serem criticados por ambas as partes. O aumentativo sinaliza essa possibilidade.
Em síntese, os três neologismos mencionados usam diferentes processos: a formação da metáfora; a criação do trocadilho; o uso do aumentativo.
Para quem vê neste momento dramático da história brasileira apenas aspectos negativos, marcados por guerra de informação, suspeitas e escândalos, a língua revela que este é também um momento criativo. A língua marca a nossa identidade, como indivíduos e como cidadãos de uma comunidade em um determinado momento histórico. Explicitar conceitos, em vez de omiti-los, negá-los ou dissimulá-los, deixa-nos alguma esperança. A de que desta vez não iremos esperar uns vinte anos para tirar a sujeira de baixo do tapete. Como em todas as crises, é difícil atravessar o processo, mas é somente abrindo e fechando as feridas que poderemos lidar serenamente com as cicatrizes que restarão como marca do passado e como advertência para o futuro. Que esperamos seja melhor. Muito melhor que o nosso presente.
Mesmo acontece na língua portuguesa de portugal ou só está acontecendo na língua “brasileira”? quer dizer que se fosse assim, seria que já está começando a diferenciação das duas línguas ?
ResponderExcluirOlá, Marcello! Tudo bem? Essas palavras estão sendo usadas no Brasil, mas a globalização da informação difunde os termos em todos os países de língua portuguesa. Os processos de formação das palavras são típicos da língua, portanto não é um processo de diferenciação, mas de enriquecimento do léxico.
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