Fazia tempo que eu não falava dos verbos. É que eles são tão arraigados ao uso que fazemos da língua, que explicitar é quase uma violação da intimidade que temos com as palavras, com o nosso modo de conviver com o idioma.
Obviamente, não pretendo com isso dar a entender que não é preciso estudar os verbos. É preciso estudá-los e é um direito tomar posse deles, torná-los nossos, usá-los com toda a propriedade de que dispõem. Usar bem os verbos é como apropriar-se plenamente de uma herança.
Não falo tanto dos verbos porque a escola faz isso todos os dias, como um jardineiro paciente, como um precetor cuidadoso. Eu falo dos verbos como um pintor de aquerela sentado na praça: com paixão pelo tempo que corre, pela água que escorre, pelas cores que desbotam indiferentes à beleza do absoluto. Eu falo dos verbos que fazem caretas para os falantes, reinventam-se, vivem porque renascem todos os dias nas nossas línguas.
O verbo IR, por exemplo, hoje bateu à porta da minha memória sem ser chamado, substituindo o verbo QUERER:
- Vai uma coxinha?
Quem conhece o uso coloquial do verbo IR sabe que na frase acima o interlocutor está oferendo um salgadinho brasileiro a um conviva.
Daí a lembrar de outros exemplos foi um passo:
O verbo IR pode indicar o destino a ser dado a um objeto:
- Os alimentos vão para o abrigo da cidade.
Pode indicar um comportamento:
- A sua atitude vai contra os bons costumes.
Pode substituir o verbo ACABAR:
- Foi-se o tempo em que a gente comprava na base da confiança.
Pode indicar o andamento de uma situação:
- A vida vai bem, obrigada.
O verbo IR também é utilizado como auxiliar: nós, brasileiros, gostamos de usar com o gerúndio em expressões como:
- A vida? Vai indo, obrigada.
E os gaúchos gostam de usar o verbo IR como auxiliar do próprio IR na formação do futuro:
- Vamos fazer uma viagem: VAMOS IR para o Pantanal.
O que será essa repetição da qual os gaúchos gostam tanto? Aplicação literal de uma regra ou resistência a deixar sentidos subentendidos?
Obviamente, não pretendo com isso dar a entender que não é preciso estudar os verbos. É preciso estudá-los e é um direito tomar posse deles, torná-los nossos, usá-los com toda a propriedade de que dispõem. Usar bem os verbos é como apropriar-se plenamente de uma herança.
Não falo tanto dos verbos porque a escola faz isso todos os dias, como um jardineiro paciente, como um precetor cuidadoso. Eu falo dos verbos como um pintor de aquerela sentado na praça: com paixão pelo tempo que corre, pela água que escorre, pelas cores que desbotam indiferentes à beleza do absoluto. Eu falo dos verbos que fazem caretas para os falantes, reinventam-se, vivem porque renascem todos os dias nas nossas línguas.
O verbo IR, por exemplo, hoje bateu à porta da minha memória sem ser chamado, substituindo o verbo QUERER:
- Vai uma coxinha?
Quem conhece o uso coloquial do verbo IR sabe que na frase acima o interlocutor está oferendo um salgadinho brasileiro a um conviva.
Daí a lembrar de outros exemplos foi um passo:
O verbo IR pode indicar o destino a ser dado a um objeto:
- Os alimentos vão para o abrigo da cidade.
Pode indicar um comportamento:
- A sua atitude vai contra os bons costumes.
Pode substituir o verbo ACABAR:
- Foi-se o tempo em que a gente comprava na base da confiança.
Pode indicar o andamento de uma situação:
- A vida vai bem, obrigada.
O verbo IR também é utilizado como auxiliar: nós, brasileiros, gostamos de usar com o gerúndio em expressões como:
- A vida? Vai indo, obrigada.
E os gaúchos gostam de usar o verbo IR como auxiliar do próprio IR na formação do futuro:
- Vamos fazer uma viagem: VAMOS IR para o Pantanal.
O que será essa repetição da qual os gaúchos gostam tanto? Aplicação literal de uma regra ou resistência a deixar sentidos subentendidos?
...a gente lê, saboreia o texto e nem percebe que você está nos ensinando...
ResponderExcluirObrigada, Claudia, sempre generosa!
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