Educação vem de berço.
É o que se diz, e é verdade. Boa ou má que seja, toda criança recebe um modelo que, de acordo com as suas inclinações, transforma em paradigma seu. Atenção: eu não disse que o modelo é transferido, eu disse que o modelo é transformado, de acordo com as inclinações de cada um.
Numa família, em geral, os filhos recebem o mesmo modelo, mas cada um processa de forma individual os estímulos recebidos. Alguns recebem péssimos exemplos em casa e chegam à escola parecendo pequenos lordes. Outros saem de contextos super controlados (e poderia dizer que o excesso de controle é um grande problema) e quando se encontram fora do ninho mostram o pior de si, ou melhor, aquilo que podem compartilhar.
Eu tive uma mãe muito cuidadosa e também bastante controladora. Bastava um olhar para a Dona Angelina me transformar em estátua. E quando o olhar não bastava, ela vinha com a sua frase típica:
"Isso é educação que se apresente?"
Era o prelúdio de um longo sermão que seria ouvido em casa.
O problema é que, na escola, nem todas as crianças chegam com a educação que os professores (e os pais também) gostariam. Chegam com a educação que conseguiram ter. Porque, felizmente, educação é processo: os sermões e os olhares da minha mãe funcionaram para não fazer feio em ocasiões públicas, mas o meu processo educativo nunca acabou, eu continuo aprendendo com os estímulos que recebo (mérito de um ambiente culturalmente dinâmico que me apresenta constantemente muitos desafios).
Eu quis levantar a questão de uma educação de berço para falar de uma problemática que geralmente é tema de pedagogos e raríssimas vezes recebe a atenção dos professores de língua: educação é problema da escola, de todos os professores, de todas as matérias da escola.
Quando ensinamos a língua portuguesa, o ideal seria ensinar educando. Ensinar, etimologicamente falando, é indicar; educar é conduzir. Trata-se de tarefas complementares. Quem ensina indica a direção, mas não basta. É preciso conduzir, pegar pela mão, apoiar durante o caminho, porque as fraquezas são muitas, assim como os perigos. Educar é a grande missão. E nem todo mundo está disposto a ser missionário. Mas deveria, porque a satisfação de acompanhar o desabrochar (educar é conduzir... para fora) de uma criança, de um jovem, de um adulto ou de um idoso é uma íntima alegria de ser humano.
Afinal, a gente ensina português para quê? Para dar uma porção de regras sintáticas, morfológicas e ortográficas? Ou para fazer parte da educação de um indivíduo que, bem ou mal, já tem a sua educação de berço, mas deve ter igualmente o direito de explorar os seus talentos e inclinações na escola, fora do restrito ambiente familiar?
Se perdemos a dimensão educativa do ensino, o trabalho do professor transforma-se em algo muito técnico, como o de um programador de computador. O que, de fato, já existe: os corretores ortográficos são automáticos, os dicionários são eletrônicos, as traduções são (quase) instantâneas, a redação de um texto é pautada pelas sugestões gramaticais do software. O trabalho de um programador é muito complexo e louvável, mas não é comparável ao trabalho de um professor. Nós não programamos máquinas, nós formamos pessoas.
Eu educo quando utilizo instrumentos de ensino adequados para que o aluno possa apropriar-se da língua a fim de melhor explicitar as suas opiniões, formular teorias, fazer um debate, exprimir as suas emoções. Nesse sentido, o aluno é o centro do meu trabalho e a língua é o elemento que focalizo para potencializar os talentos que ele possui ou para estimular áreas que ainda não foram sensibilizadas. Há professores que ensinam e há professores que, além de ensinar, educam.
Precisamos fazer um esforço para educar cada vez mais. Sem cair no estereótipo de que educadores optam pelo caminho medíocre da relativização, de achar que tudo é bom, que nada pode ser criticado ou corrigido nos alunos. Quando vejo colegas fazendo esse tipo de oposição, confesso que fico desmoralizada. Educar é ir além do ensino no sentido técnico, não é um palavrão, não é falta de rigor científico.
De certa forma, já tenho dito isso de várias maneiras aqui no blog ao longo do tempo, mas às vezes não custa ser didático. Vai que um detalhe ou uma explicação a mais possa ser útil. Melhor pecar por excesso.
Porque quando os alunos saírem da escola com péssima educação, uma Dona Angelina poderá dizer: isso é educação que se apresente? E vai ficar muito chato que profissionais, especializados, pagos, dedicados, esforçados, achem que o seu trabalho se resuma a um punhado de regras de gramática que qualquer editor de textos já possui até nas versões básicas.
É o que se diz, e é verdade. Boa ou má que seja, toda criança recebe um modelo que, de acordo com as suas inclinações, transforma em paradigma seu. Atenção: eu não disse que o modelo é transferido, eu disse que o modelo é transformado, de acordo com as inclinações de cada um.
Numa família, em geral, os filhos recebem o mesmo modelo, mas cada um processa de forma individual os estímulos recebidos. Alguns recebem péssimos exemplos em casa e chegam à escola parecendo pequenos lordes. Outros saem de contextos super controlados (e poderia dizer que o excesso de controle é um grande problema) e quando se encontram fora do ninho mostram o pior de si, ou melhor, aquilo que podem compartilhar.
Eu tive uma mãe muito cuidadosa e também bastante controladora. Bastava um olhar para a Dona Angelina me transformar em estátua. E quando o olhar não bastava, ela vinha com a sua frase típica:
"Isso é educação que se apresente?"
Era o prelúdio de um longo sermão que seria ouvido em casa.
O problema é que, na escola, nem todas as crianças chegam com a educação que os professores (e os pais também) gostariam. Chegam com a educação que conseguiram ter. Porque, felizmente, educação é processo: os sermões e os olhares da minha mãe funcionaram para não fazer feio em ocasiões públicas, mas o meu processo educativo nunca acabou, eu continuo aprendendo com os estímulos que recebo (mérito de um ambiente culturalmente dinâmico que me apresenta constantemente muitos desafios).
Eu quis levantar a questão de uma educação de berço para falar de uma problemática que geralmente é tema de pedagogos e raríssimas vezes recebe a atenção dos professores de língua: educação é problema da escola, de todos os professores, de todas as matérias da escola.
Quando ensinamos a língua portuguesa, o ideal seria ensinar educando. Ensinar, etimologicamente falando, é indicar; educar é conduzir. Trata-se de tarefas complementares. Quem ensina indica a direção, mas não basta. É preciso conduzir, pegar pela mão, apoiar durante o caminho, porque as fraquezas são muitas, assim como os perigos. Educar é a grande missão. E nem todo mundo está disposto a ser missionário. Mas deveria, porque a satisfação de acompanhar o desabrochar (educar é conduzir... para fora) de uma criança, de um jovem, de um adulto ou de um idoso é uma íntima alegria de ser humano.
Afinal, a gente ensina português para quê? Para dar uma porção de regras sintáticas, morfológicas e ortográficas? Ou para fazer parte da educação de um indivíduo que, bem ou mal, já tem a sua educação de berço, mas deve ter igualmente o direito de explorar os seus talentos e inclinações na escola, fora do restrito ambiente familiar?
Se perdemos a dimensão educativa do ensino, o trabalho do professor transforma-se em algo muito técnico, como o de um programador de computador. O que, de fato, já existe: os corretores ortográficos são automáticos, os dicionários são eletrônicos, as traduções são (quase) instantâneas, a redação de um texto é pautada pelas sugestões gramaticais do software. O trabalho de um programador é muito complexo e louvável, mas não é comparável ao trabalho de um professor. Nós não programamos máquinas, nós formamos pessoas.
Eu educo quando utilizo instrumentos de ensino adequados para que o aluno possa apropriar-se da língua a fim de melhor explicitar as suas opiniões, formular teorias, fazer um debate, exprimir as suas emoções. Nesse sentido, o aluno é o centro do meu trabalho e a língua é o elemento que focalizo para potencializar os talentos que ele possui ou para estimular áreas que ainda não foram sensibilizadas. Há professores que ensinam e há professores que, além de ensinar, educam.
Precisamos fazer um esforço para educar cada vez mais. Sem cair no estereótipo de que educadores optam pelo caminho medíocre da relativização, de achar que tudo é bom, que nada pode ser criticado ou corrigido nos alunos. Quando vejo colegas fazendo esse tipo de oposição, confesso que fico desmoralizada. Educar é ir além do ensino no sentido técnico, não é um palavrão, não é falta de rigor científico.
De certa forma, já tenho dito isso de várias maneiras aqui no blog ao longo do tempo, mas às vezes não custa ser didático. Vai que um detalhe ou uma explicação a mais possa ser útil. Melhor pecar por excesso.
Porque quando os alunos saírem da escola com péssima educação, uma Dona Angelina poderá dizer: isso é educação que se apresente? E vai ficar muito chato que profissionais, especializados, pagos, dedicados, esforçados, achem que o seu trabalho se resuma a um punhado de regras de gramática que qualquer editor de textos já possui até nas versões básicas.
Comentários
Postar um comentário