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Mostrando postagens de abril, 2013

É MEU FREGUÊS!

Quem já ouviu a expressão "É meu freguês!" exclamada em um estádio de futebol nunca ficou surpreso? Eu fiquei. Achei engraçada e criativa. A primeira vez que ouvi acho que o Internacional de Porto Alegre jogava com o Juventude de Caxias do Sul. Eram rivais, porque o Juventude por volta dos anos noventa estava decidido a obter a liderança no campeonato de futebol gaúcho, onde então reinavam somente duas estrelas: a do Inter e a do Grêmio. Quem é muito jovem não lembra da rivalidade de outros tempos, que incluía o São José e o Cruzeiro  (que voltaram ao campeonato recentemente), o Aimoré... Nos anos noventa os times fortes eram o Inter, o Grêmio e o Juventude. Quando uma equipe estava ganhando, a sua torcida gritava para o adversário: "É meu freguês!". Também usavam outra expressão: "Touca!" - alusão ao frio do Sul, mas isso é assunto para outro texto. Por que o time que perde "é freguês"? Porque o freguês faz o interesse do comerciante. Freguês,

ÉTICA - EM VIA DE EXTINÇÃO

Como pode uma palavra com setenta e nove milhões de citações na rede, com mais de oitenta e cinco mil citações em notícias, estar em via de extinção? Porque estão em via de extinção não apenas as palavras abandonadas, mas também aquelas que são utilizadas para chamar a atenção da opinião pública, ou, mais tristemente, as que se tornam objeto de polêmicas retóricas. A palavra "ética" hoje virou arroz-de-festa. Todo mundo usa para tirar o máximo proveito e usar o mínimo esforço. É claro que isso resulta de uma dissociação entre o discurso e a vida real. O método descritivo tomou o lugar do confronto de ideias. Moral da história: todo mundo fala sobre tudo e pode dizer, sem pestanejar, que está descrevendo o fato, não está defendendo a tese. O chato é que há anos, por defender as minhas posições, tenho sido acusada de ser moralista... Moralista, eu? Há anos tenho travado essa batalha quixotesca de buscar uma relação entre o dito e o feito. Eu não sou moralista, eu sou pros

UMA E OUTRA

Uma coisa é educar Outra coisa é instruir Uma coisa é formar Outra coisa é doutrinar Uma coisa é guiar Outra coisa é restringir Uma coisa é cultivar Outra coisa é podar Uma coisa é aguardar Outra coisa é omitir-se Uma coisa é apostar Outra coisa é duvidar Uma coisa é calar Outra coisa é mentir Uma coisa é falar Outra coisa é proclamar Uma coisa é afastar-se Outra coisa é fugir Uma coisa é dar Outra coisa é apreçar Uma coisa é avaliar Outra coisa é dividir Uma coisa é explicar Outra coisa é ditar Uma coisa é questionar Outra coisa é confundir Uma coisa é estimular Outra coisa é apressar Uma coisa é aceitar Outra coisa é desistir Uma coisa é preparar Outra coisa é treinar Uma coisa é acreditar Outra coisa é influir Uma coisa é cativar Outra coisa é aprisionar Uma coisa é educar Outra coisa é instruir Porque a vida não tem sinônimos.

O FATOR C - CORDIAL OU CALHORDA?

Recentemente li um artigo comentando o livro do filósofo americano Aaron James, "Assholes: a theory". Uma tradução possível poderia ser: "Calhordas: uma teoria", ou ainda, para ser um pouco mais criativa, "Teoria geral da calhordice". Encontrei um outro blogueiro comentando o livro: para ele a tradução para "assholes" poderia ser "babaca". Está certo, mas, para os meus objetivos, a tradução "calhorda" fornece o elemento perfeito para pensar em outro elemento significativo na cultura brasileira, a cordialidade. Qual é o fator predominante para você? Somos um povo de calhordas ou ainda prevalece o homem cordial descrito por Sérgio Buarque de Hollanda? Para responder às perguntas, vamos às definições. O calhorda é uma pessoa que exige vantagens sistematicamente,   colocando o seu direito pessoal em uma esfera distinta e superior ao da coletividade. A sua convicção impede que leve em consideração o direito dos outros, de fato é

SE NÃO TEM MACHADO, CACE COM CARPINEJAR

Ando às voltas com a memória. Essa longa quaresma trouxe-me à mente minha avó, as suas expressões arcaicas e belas, que já no meu tempo de menina pareciam palavras erradas. Quando era menina, evitava repeti-las, nem a minha professora usava aquelas palavras! Mas quando descobri a nossa língua velha e mofada, aquela preciosidade que a gente despreza com a inconsciência de quem joga fora uma camisa desgastada, descobri as palavras de minha avó. Eram tantas.  No meio tempo tornei-me professora. E às vezes, para não perder o hábito e conservar a memória, perguntava para a nossa experiente secretária da escola se ela usava esta ou aquela palavra. Cara Nely, que ainda está lá, enquanto eu me encontro agora em outro arraial... A nossa secretária era mineira, minha avó era gaúcha, mas muitas vezes descobri com ela que em termos de tempo a língua é generosa e não faz muitas distinções regionais.  Talvez dessa experiência familiar e da minha natural inclinação para a língua venha essa minha ob