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Mostrando postagens de janeiro, 2013

PALAVRAS QUE FAZEM MAL

"Quase sem querer", diria Renato Russo, ou "sem querer querendo", por excessiva distração, por pouco cuidado e delicadeza, por ignorância ou por preguiça, perpetuamos no nosso repertório a utilização de palavras que marcam um período assinalado por preconceitos, dominação e exclusão. Essa não é uma defesa simplória do "politicamente correto", que é usado como arma de policiamento da linguagem, mas um convite a enquadrar termos que adquiriram um sentido novo, e depreciativo. Sou da opinião que colocar uma pedra sobre certas coisas não ajuda a superar realmente o problema, se não entendemos as causas de um fenômeno, estamos sujeitos a repetir os mesmos erros do passado, a repropor os mesmos esquemas semânticos com palavras novas. Por isso, partindo da ótima discussão surgida a partir do último texto "Caro Al...", gostaria de listar alguns vocábulos que podem passar em brancas nuvens, sem que o falante perceba o quanto possa estar sendo indelicado a

CARO AL...

Quem vive às margens do Mediterrâneo ou tem nas veias a consciência dos laços ancestrais que ligam culturas aparentemente tão diferentes e profundamente tão humanas sabe que todo dia é dia de respirar, contar até dez e começar de novo. Os nossos hábitos gastronômicos estão aí para mostrar que estamos muito mais perto das culturas "distantes" do que parece. Exemplo? O pastel, unanimidade no Brasil e em Portugal, não é nada mais que uma versão do rolinho primavera chinês, adaptado e ampliado com criatividade e sabor local. O tempura, que comemos nos restaurantes japoneses, é um prato introduzido pelos jesuítas no Japão - vem da expressão "ad tempora quadragesimae" - porque durante a Quaresma não se come carne, mas uma verdurinha preparada de modo caprichado não ofende ninguém... E a panqueca, o que é? Uma transliteração do "pancake"... Depois temos o velho Al... artigo da língua árabe anexada às palavras que absorvemos ao longo do convívio de séculos com a

HORKHEIMER, MEU PAI E A ETIMOLOGIA

Meu pai não era um homem culto, era um homem sábio. "Culto", palavra frequentemente ligada à cultura, também tem a ver com culto, com rito, com adoração de divindades. Às vezes tenho a impressão de que usamos com muita rapidez as palavras culto, erudito, sábio, como se fossem a mesma coisa. Não é bem assim, para ser minuciosa. E ser minuciosa é um dos meus piores defeitos. Por que meu pai era sábio? Em primeiro lugar porque era humano. Nós somos "homo sapiens". Quer dizer, era sábio, mas não era infalível. De fato, não era divino, nem tinha a pretensão de comparar-se a. Em sua sabedoria de homem simples e inculto, meu pai me deu as bases para enfrentar outras filosofias. Fez o seu papel de pai, com a generosidade de que dispunha e talvez se esforçando para ir além de seus limites. Quando pedia um balanço do dia e perguntava as motivações para uma ou outra atitude minha, o que me deixava mais nervosa era a sua contra-argumentação: "isso explica, mas não justif

ANO NOVO, PALAVRA NOVA

Nem tudo que é novo é bom. O termo "exodado" é exemplo disso. "Exodado": você nunca ouviu falar dessa palavra? Provavelmente não. Participo de um portal de tradução como voluntária e recentemente o administrador do glossário solicitou a tradução em várias línguas do neologismo italiano "esodato". O termo foi escolhido como palavra do ano na Itália e esse fator deve ter contribuído para que a sua tradução se tornasse necessária. O que é um "esodato"? Para traduzir o termo é preciso em primeiro lugar entender a essência. Por que os italianos sentiram a necessidade de inventar um termo novo? "Esodato" é uma pessoa que fez um êxodo do mercado de trabalho, quer dizer, saiu do mercado do trabalho. É uma analogia ao êxodo dos judeus que, guiados por Moisés, deixaram o Egito, onde eram escravos, atravessaram o deserto e chegaram até o Monte Sinai para a nova aliança. É um texto muito rico, portanto os leitores perdoem por favor a extrema e