Oh... que pergunta horrível! Uma cara amiga minha diria: "você faz uma pergunta dessas sem nem me dar o tempo de retocar o batom?". E além do mais, o que os mafiosos têm a ver com a língua? Tudo. Mas em vez de dar o conceito pronto e mastigado, proponho um teste interativo, em que o leitor poderá descobrir através do método maiêutico se é mafioso ou não.
1) Um amigo seu revela que para ter acesso ao financiamento da casa destinado a pessoas com uma determinada faixa de renda, decidiu ocultar parte dos rendimentos na declaração de impostos. Você pensa:
(a) não é problema meu
(b) fez bem, no seu lugar eu faria o mesmo
(c) apesar de ser seu amigo, não posso deixar de dizer que reprovo a sua atitude
(d) outra resposta. Qual?...........................
2) Uma empresa está selecionando candidatos e quer saber se você conhece alguém com o perfil desejado. Você conhece uma pessoa com os requisitos, mas é uma pessoa antipática. O que você faz?
(a) diz que não conhece ninguém com aquelas características
(b) indica um amigo para lhe fazer um favor
(c) indica a pessoa mais qualificada, independentemente do seu apreço pessoal
(d) outra resposta. Qual?...........................
3) Você está na fila do ônibus e vê um amigo um pouco atrás. O que você faz?
(a) avisa para a pessoa às suas costas que o amigo está com você
(b) avisa para o amigo que vai guardar um lugar para ele
(c) oferece o seu lugar ao amigo quando ele finalmente entra na condução
(d) outra resposta. Qual?...........................
4) No seu departamento surgiu uma vaga que pode representar uma promoção para você. Mas também para um colega... O que você faz?
(a) realiza uma campanha nos bastidores para acabar com a sua reputação
(b) inscreve-se no clube de golfe em que joga o presidente da empresa e estabelece amizade com ele
(c) empenha-se para dar o melhor de si e colocar em evidência as suas qualidades profissionais
(d) outra resposta. Qual?...........................
5) Você comete um erro no trabalho. O que faz?
(a) reza para que ninguém descubra
(b) nega que seja culpa sua
(c) avisa logo sobre o problema e pede ajuda para encontrar uma solução
(d) outra resposta. Qual?...........................
O nosso cotidiano está cheio de situações em que podemos escolher entre uma atitude transparente ou não, correta ou não, justa ou não. Podemos fazer a coisa certa ou a coisa errada. E se a opção ao que é certo não pode ser outra coisa se não algo errado, as alternativas à melhor escolha podem ser muitas, podem ser infinitas.
É estatisticamente demonstrado que é muito mais provável errar do que acertar na vida.
Uma semântica do erro:
A gramática tem resposta para tudo. Esta é a sua beleza estrutural e impassível. A gramática nos oferece, por exemplo, o conceito de sinônimo. Quando nos enganamos, equivocamos, falhamos, usamos termos diferentes, exemplos diferentes, alusões diferentes para explicar uma coisa.
Sinônimos, como se sabe, não são expressões ou termos idênticos, mas elementos relativamente equivalentes.
Do outro lado de uma lista de sinônimos encontramos uma palavra polissêmica, quer dizer, uma palavra que pode assumir várias acepções mais ou menos equivalentes, mas não iguais.
É assim que, seguindo dois princípios de base da língua, podemos seguir a evolução e o alargamento do conceito de máfia e mafioso. Ser mafioso não é só pertencer à máfia, mas ter um comportamento corporativo, assimilável ao dos membros da máfia. Por associação e semelhança, ser mafioso pode significar ter um comportamento de proteção que coloca em suspensão o livre arbítrio. Ser mafioso significa penhorar a própria liberdade em nome de outros interesses. Ser mafioso é ser desonesto (mais ou menos, mas sempre desonesto) em primeiro lugar em relação a si mesmo. Ser mafioso, portanto, é um desrespeito que se abate primeiro sobre o sujeito corrupto e logo em seguida sobre os interlocutores. Ser mafioso é ser mau-caráter. Ser mau-caráter é ser inconfiável. Ser inconfiável é ser falso. E ser falso é de algum modo ser "persona", é encarnar um personagem. É representar.
Representar é...
A lista é infinita. E dessa forma retornamos ao início desse discurso circular.
Tudo é relativo? A relatividade é o melhor álibi para ocultar uma falha, um equívoco, um erro. A relatividade é a melhor amiga da mediocridade. É a pior inimiga da liberdade. Ser mafioso é não ser livre.
Os escândalos de corrupção que estão abalando as grandes democracias em vários continentes do mundo estão mostrando limites e também evidenciando o alcance do espírito mafioso enraizado no âmago das relações sociais. No âmago dos discursos e das convicções que não se traduzem em fatos, mas geram somente uma série de simulacros e de representações.
Esse abismo entre o dizer e o fazer preocupa-me. É hora de voltar ao bê-a-bá. Quem se sente a salvo dos princípios de base, tenha o cuidado de pegar um paraquedas antes de mergulhar na própria consciência.
1) Um amigo seu revela que para ter acesso ao financiamento da casa destinado a pessoas com uma determinada faixa de renda, decidiu ocultar parte dos rendimentos na declaração de impostos. Você pensa:
(a) não é problema meu
(b) fez bem, no seu lugar eu faria o mesmo
(c) apesar de ser seu amigo, não posso deixar de dizer que reprovo a sua atitude
(d) outra resposta. Qual?...........................
2) Uma empresa está selecionando candidatos e quer saber se você conhece alguém com o perfil desejado. Você conhece uma pessoa com os requisitos, mas é uma pessoa antipática. O que você faz?
(a) diz que não conhece ninguém com aquelas características
(b) indica um amigo para lhe fazer um favor
(c) indica a pessoa mais qualificada, independentemente do seu apreço pessoal
(d) outra resposta. Qual?...........................
3) Você está na fila do ônibus e vê um amigo um pouco atrás. O que você faz?
(a) avisa para a pessoa às suas costas que o amigo está com você
(b) avisa para o amigo que vai guardar um lugar para ele
(c) oferece o seu lugar ao amigo quando ele finalmente entra na condução
(d) outra resposta. Qual?...........................
4) No seu departamento surgiu uma vaga que pode representar uma promoção para você. Mas também para um colega... O que você faz?
(a) realiza uma campanha nos bastidores para acabar com a sua reputação
(b) inscreve-se no clube de golfe em que joga o presidente da empresa e estabelece amizade com ele
(c) empenha-se para dar o melhor de si e colocar em evidência as suas qualidades profissionais
(d) outra resposta. Qual?...........................
5) Você comete um erro no trabalho. O que faz?
(a) reza para que ninguém descubra
(b) nega que seja culpa sua
(c) avisa logo sobre o problema e pede ajuda para encontrar uma solução
(d) outra resposta. Qual?...........................
O nosso cotidiano está cheio de situações em que podemos escolher entre uma atitude transparente ou não, correta ou não, justa ou não. Podemos fazer a coisa certa ou a coisa errada. E se a opção ao que é certo não pode ser outra coisa se não algo errado, as alternativas à melhor escolha podem ser muitas, podem ser infinitas.
É estatisticamente demonstrado que é muito mais provável errar do que acertar na vida.
Uma semântica do erro:
A gramática tem resposta para tudo. Esta é a sua beleza estrutural e impassível. A gramática nos oferece, por exemplo, o conceito de sinônimo. Quando nos enganamos, equivocamos, falhamos, usamos termos diferentes, exemplos diferentes, alusões diferentes para explicar uma coisa.
Sinônimos, como se sabe, não são expressões ou termos idênticos, mas elementos relativamente equivalentes.
Do outro lado de uma lista de sinônimos encontramos uma palavra polissêmica, quer dizer, uma palavra que pode assumir várias acepções mais ou menos equivalentes, mas não iguais.
É assim que, seguindo dois princípios de base da língua, podemos seguir a evolução e o alargamento do conceito de máfia e mafioso. Ser mafioso não é só pertencer à máfia, mas ter um comportamento corporativo, assimilável ao dos membros da máfia. Por associação e semelhança, ser mafioso pode significar ter um comportamento de proteção que coloca em suspensão o livre arbítrio. Ser mafioso significa penhorar a própria liberdade em nome de outros interesses. Ser mafioso é ser desonesto (mais ou menos, mas sempre desonesto) em primeiro lugar em relação a si mesmo. Ser mafioso, portanto, é um desrespeito que se abate primeiro sobre o sujeito corrupto e logo em seguida sobre os interlocutores. Ser mafioso é ser mau-caráter. Ser mau-caráter é ser inconfiável. Ser inconfiável é ser falso. E ser falso é de algum modo ser "persona", é encarnar um personagem. É representar.
Representar é...
A lista é infinita. E dessa forma retornamos ao início desse discurso circular.
Tudo é relativo? A relatividade é o melhor álibi para ocultar uma falha, um equívoco, um erro. A relatividade é a melhor amiga da mediocridade. É a pior inimiga da liberdade. Ser mafioso é não ser livre.
Os escândalos de corrupção que estão abalando as grandes democracias em vários continentes do mundo estão mostrando limites e também evidenciando o alcance do espírito mafioso enraizado no âmago das relações sociais. No âmago dos discursos e das convicções que não se traduzem em fatos, mas geram somente uma série de simulacros e de representações.
Esse abismo entre o dizer e o fazer preocupa-me. É hora de voltar ao bê-a-bá. Quem se sente a salvo dos princípios de base, tenha o cuidado de pegar um paraquedas antes de mergulhar na própria consciência.
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