Quase todo
estudante conhece o que se diz dos maus professores: “quem não sabe ensina”. E
quem frequenta as salas dos professores sabe o comentário sobre os alunos: “falam mal”.
É uma
queda-de-braço sem fim. A culpa é de quem não ensina ou de quem não aprende?
A arte de
transformar limão em limonada
Hoje o
velho provérbio é conhecido como talento para solução de problemas ou “problem
solving attitude”. É uma atitude rara nos mestres ruins e nos alunos
preguiçosos. É a grande lacuna que se evidencia quando um professor diz: “aquele
aluno não tem jeito” ou quando o aluno se justifica com palavras do tipo: “não
consigo porque é muito difícil”. Mas é uma arte mais necessária do que nunca.
Professor que vê no seu aluno o “limão” da vez, deixando de ver nele uma
oportunidade, comete um grave equívoco: não só deixa de fazer a diferença para
o aluno, mas também deixa de perceber que pode ser um bom professor. Aluno que
usa a dificuldade como álibi tem um caminho de fracasso ou de sucesso pela
frente. Sim, também pode ter sucesso com a preguiça. É quando o aluno faz o
mínimo possível para ir adiante, escondendo-se sob a fantasia do “aluno esforçado”.
Há centenas de “esforçados” bem sucedidos que, caso caiam numa sala de aula,
repetem para os seus alunos: “lembrem que esse assunto é muito difícil”. Com
essa sentença não só reforçam a sua reputação de pessoa iniciada em assuntos
difíceis, mas afastam possíveis curiosos do caminho que leva a descobrir que as
coisas nem sempre são tão difíceis como parecem.
A língua
como anéis de cebola
Os anéis de
cebola empanados são uma delícia para quem sabe apreciar o sabor adocicado da
cebola com o salgado da massa empanada. O problema está na preparação, porque
parece que não há receita caseira capaz de garantir que se possa cortar as
rodelas de cebola sem derramar alguma lágrima.
Gosto de
pensar na língua como anéis de cebola e de pensar no prazer que dá poder usar
os seus recursos como se estivesse degustando um prato saboroso. A metáfora faz
sentido, se pensamos nas rodelas da cebola como os vários registros que podemos
usar, de acordo com o contexto. Temos o nosso modo pessoal de nos exprimirmos,
o nosso idioleto. Vivemos situações em que precisamos colocar de lado o nosso
jeito pessoal para poder melhor representar um grupo: na empresa, na escola, em
uma situação pública. Podemos usar o nível coloquial ou formal; um padrão
familiar ou um padrão culto; podemos usar gírias ou jargões. Cada uma das
formas adotadas é uma “rodela” de cebola que saboreamos.
Para ter
domínio sobre todos esses registros, nenhum professor pode prometer um percurso
sem lágrimas. Cortar a “cebola” e dominar os seus estratos dá trabalho, exige
paciência, dedicação, mas o resultado geralmente é compensador. Traduz-se em
reconhecimento, respeito, melhores oportunidades de trabalho, melhor
comunicação, mais capacidade de entender-se com as pessoas, mais facilidade
para ser entendido. É um prato cheio.
Não preciso
dizer qual é o meu cardápio cotidiano, certo? Limonada e anéis de cebola.
É Gislaine colocando as coisas no lugar; no lugar certo.
ResponderExcluirOi, Claudia, andei correndo e a revisão dos meus textos têm pagado o preço... corrigi alguns deslizes das últimas mensagens. Também gostaria de aproveitar para dizer que adorei o seu texto sobre o verbo FAZER publicado no blog Clareza e Coerência. Assinalei que gostei, mas não coloquei comentário. Fica o registro.
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