Os
literatos que me perdoem, mas a paródia é fundamental. Nas últimas décadas a
paródia tem sido muito mais que uma função literária, assumindo de fato um
valor cultural. A paródia irônica, a que diz rebaixando e exaltando o
contrário, para usar conceitos bem simples, foi instrumento de toda uma
corrente literária, tendo Moacyr Scliar entre seus melhores representantes na
literatura brasileira.
Se a língua
portuguesa é fator de agregação, de identificação dos seus falantes em torno de
uma base cultural comum, se é pátria, então eu quero derrubar o totem e exigir
república já! Sei que essa é uma conversa velha, basta ler os modernistas.
Basta ler... Quanto temos lido (independentemente do fato de concordar ou não
com os valores do modernismo)? Os resultados dos exames de língua portuguesa na
escola brasileira têm-me deixado simplesmente chocada. Quando li os resultados
de uma das nossas capitais, com um resultado médio de 3,4 nos testes de
competência linguística, fechei o site e comecei a ruminar os resultados.
Culpa das
crianças? Culpa da família? Culpa da escola? Culpa do governo? Não sei, mas é
certo que todos esses atores usam a língua e inserem as crianças no sistema
linguístico que compartilhamos. Estamos compartilhando muito mal, poderia
dizer. Perdemos uma enorme energia fazendo a separação do joio e do trigo, quer
dizer, no julgamento sistemático do “certo” e do “errado”, enquanto deixamos as
massas penando no umbral, à mercê da única gramática que conhecem: a da língua
falada. Está faltando espírito de república democrática, que dê oportunidades e
instrumentos para as pessoas pensarem em como podem usar a língua. Todos devem
sentir-se responsáveis por essa conquista, mas é claro que os professores são
mais responsáveis que os outros. Não lhes pode faltar o espírito cívico, que se
traduz na responsabilidade de ensinar com todos os meios e esforços o que os
pequenos cidadãos postos em suas mãos não tiveram em casa. Do contrário, que
escola é? Uma escola para os que não precisam de professor?
São os “piores”
alunos que fazem valer o diploma de professor. O que os pais e a comunidade não
conseguiram fazer por falta de opções, condições, conhecimento, o professor
DEVE fazer por profissão. Não vou dizer que os professores são ruins, mas o
resultado médio da aprendizagem da língua não sugere um quadro muito animador.
Usei toda
essa ladainha para dizer no fim das contas isso: que estamos longe de uma
república. Um estado em que uma elite linguística (não econômica, porque o
assunto aqui é outro!) não consegue difundir o seu padrão de forma eficaz, em
que os seus encarregados (os professores) nem sempre têm pleno domínio dos
registros com os quais lidam nas aulas, em que há nas massas até um certo
orgulho da própria ignorância, não pode ser um estado com bases sólidas para
enfrentar a sociedade de informação que lentamente anuncia a era da
complexidade. Mais que república, isso parece uma vassalagem incapaz de levar a
um salto de qualidade que beneficie o país como um todo.
Eu sei que
sou uma gota de água no oceano, longe de mim ter receita para tudo! Porém sei
que gerir informações, ter capacidade analítica e saber comunicar o
conhecimento são ferramentas básicas para ter êxito na vida. E o êxito de um
país não pode prescindir do êxito dos seus cidadãos nessas áreas. A língua é a
base de tudo? É. Nenhum físico pode ser brilhante, se não souber explicar suas
teorias. A língua deveria ser a experiência fundamental em todo o percurso de
estudos, nos seus vários usos aplicados. Deveria ser de fato o elemento
agregador de uma sociedade que quer ver o crescimento do país e dos seus
cidadãos.
Eu não
perco a esperança: viva a língua e prosperidade para a nossa república!
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