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ONDE HÁ FOGO, HÁ FUMAÇA


Detectar uma mentira não é brincadeira. Bem mais fácil é mostrar por que uma mentira é mentirosa.
Falar sobre a mentira é chover no molhado: vista do ponto de vista psicológico, jurídico, filosófico, religioso, sociológico, não há quem não tenha descrito as suas várias facetas.
E as estruturas da língua? Há algo nelas que nos permita pegar uma mentira na botija?
Apesar do risco de pecar por superficialidade, vale a pena tocar no assunto: quem gosta da língua de verdade não pode ignorar que a mentira tem um peso e um valor que varia de cultura para cultura.
Vejamos alguns exemplos para ver como ela se apresenta e como podemos enfrentar as suas armadilhas.
Cuidado com palavras que excluem:
- Somos amigos. (amizade colorida?)
- De jeito nenhum. (hummm...)
Atenção com palavras indefinidas:
- Alguém me contou. (nome?...)
- Andam dizendo... (o sujeito indefinido é o álibi perfeito de todo mentiroso)
O diminutivo não podia ficar fora da lista:
- Temos um probleminha... (prepare-se que o problema é enorme)
- Só um pouquinho. (espere sentado...)
Outro modo de enrolar o interlocutor é usar o futuro do pretérito seguido de uma conjunção adversativa:
- Adoraria, mas agora não é possível. (com certeza...)
Enfim, as orações condicionais com presença do verbo no imperfeito do subjuntivo:
- Se eu pudesse, ajudaria. (fala sério...!)
- Se eu fosse você... (da série: faça o que eu diga e não faça o que eu faço)

Todas essas formas, capazes de esconder uma mentirinha, não são nada, porém, se comparadas com as formas que julgo “profissionais”, nas quais a falsidade é construída com dados verificáveis. É o caso do famoso comercial “Hitler”, da Folha de São Paulo, que se concluía assim:
“Dá para contar um monte de mentiras dizendo só a verdade. Por isso é preciso muito cuidado com a informação e o jornal que você recebe. Folha de São Paulo, o jornal que mais se compra e o que nunca se vende”.
E o que fazer ao desconfiar que alguém está mentindo? Brinque, porque é brincando que se diz a verdade.
Simples e (quase) direto:
- Você tá brincando... (tradução: você está mentindo, eu sei)
- Tá brincando comigo? (tradução: você está mentindo, eu sei)

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