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EU ENSINO, VOCÊ ENSINA


Dia do Professor, data boa para pensar no que ensinamos quando ensinamos a língua portuguesa.
Para começar: cada falante é um professor de língua portuguesa. Quer dizer, fornecemos, conscientemente ou não, um modelo de língua para quem está ao nosso redor. E fornecemos um modelo usando todos os recursos à nossa disposição: palavras, cadência, gestos, ritmo. Os pais são poderosos professores de língua para seus filhos.
Porém, quem escolhe ser professor, não substitui os pais, nem os tios (ou tias). Além de continuar a fornecer um modelo de língua para os alunos, o professor tem o compromisso de conduzir os estudantes pelos caminhos tortuosos que o idioma oferece. As receitas para fazer isso são muitas, naturalmente cada professor deve ter a sua.
Eu mentiria se dissesse que a minha fórmula está testada e aprovada. Está me convencendo, mas precisei de anos para acertar a combinação dos ingredientes. Em primeiro lugar, é preciso esquecer o título, jogar fora o diploma. O conhecimento teórico é uma base essencial para qualquer professor, não é um diferencial. A diferença para mim tem outro nome: chama-se respeito.
Nas minhas aulas procuro pedir que as pessoas façam coisas e tento descobrir o que elas gostam de fazer. Quando o aluno é “grande” conversamos sobre o que acontece quando em uma situação real a língua é usada de determinado modo. Tentamos descobrir se há outras soluções para as situações que vivenciamos. Quando o aluno é “pequeno”, observo. A observação tem sido a minha fiel aliada, o que me permite avaliar que tipo de uso o aluno está fazendo com a sua língua e o que me permite propor situações em que o aluno precise enfrentar na prática coisas novas, consolidar boas práticas ou, ainda, faz com que eu evite submeter o aluno a determinadas situações. Faço tudo isso, mas tenho a convicção de que nada funcionaria se eu não respeitasse de verdade cada um dos meus alunos. E se eles não entendessem que respeito é uma coisa fundamental.
Certa vez tive um aluno muito inquieto. Depois de muitos meses tentando encontrar uma solução para que ele tivesse uma atitude mais autônoma e participativa em sala de aula, decidi fazer um esforço a mais para que dialogássemos de pessoa para pessoa (não de professor para aluno e vice-versa). Disse que respeitava a sua inquietude e tinha até preparado um lugar especial para ele brincar quando cansasse da aula. Tinha chegado à conclusão de que não havia nenhum método de ensino que pudesse competir com o cansaço. Então observei. Fiz várias atividades, colocando à prova diferentes habilidades dos alunos no uso da língua: leitura em silêncio, escrita, escuta. De repente notei que o aluno estava ficando cansado. Disse que o respeitava e que entenderia se ele quisesse afastar-se do grupo para fazer uma atividade livre, sozinho. E disse ainda que se ele fizesse isso, respeitando uma necessidade sua, estaria também respeitando os colegas, pois ninguém ficaria achando que ele estava atrapalhando. Então apresentei a atividade seguinte, que gostaria de fazer com o grupo. Vendo que o meu aluno não saía da cadeira, perguntei se ele queria ficar sozinho e fazer uma atividade livre ou preferia ficar a participar da atividade que estava sendo proposta. Ele preferiu ficar. Foi assim que ganhei o meu dia do professor e senti que aquele era o aluno mais importante, porque era uma pessoa que tinha pai, tinha mãe, tinha tios, mas o professor tinha com ele um compromisso a cumprir e não podia desistir sem atingir o resultado, porque esse é o seu trabalho.

Comentários

  1. Parabéns atrasado pelo Dia do Professor!Taí um belo exemplo e uma boa explicação a respeito de sua competência!Parabéns Gislaine, pelo comprometimento, pelo trabalho cumprido com orgulho e satisfação!Te adorooooooooooooooo!bejos, Eliane Marins.

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